17/07/2008

Colaride I

Espeleologia
Tarde e a más horas


[FORA DE PORTAS ● jornal Forum Ambiente nº 128, 2 de Maio de 1997]

© Tiago Petinga (Forum Ambiente, 1997)

Uma conduta de águas residuais foi ligada, no início da década de 50, à Gruta-sumidouro de Colaride I, juntamente com canalizações ilegais de esgotos fabris e, porventura, domésticos. Desde então, a evolução do estado de degradação desse complexo subterrâneo tem-se incrementado, a par dos constantes alertas lançados pela comunidade espeleológica. Aguarda-se a tão desejada recuperação.

A Gruta de Colaride I, situada no Alto de Colaride (freguesia de Agualva-Cacém) a cerca de dois quilómetros a oeste do vértice geodésico do Monte Abraão, é um sumidouro activo com cerca de 500 metros de desenvolvimento e 30 metros de profundidade.
As primeiras referências sobre a degradação e contaminação da caverna datam de 1976. Nesse ano, a Associação dos Espeleólogos de Sintra (AES) despoletou uma série de acções com vista à defesa do local, nomeadamente o alerta às entidades competentes, sem, no entanto, obter qualquer sucesso. Desde 1976 até 1993, sucederam-se diversas tentativas no sentido de levar essas entidades a adoptar medidas de protecção e recuperação da gruta. Dessas diligências ficou a percepção da inércia e mesmo da negligência com que se encarou o problema. De facto, as entidades abordadas limitaram-se a salvaguardar a sua posição atribuindo as responsabilidades do sucedido umas às outras.
A Câmara Municipal de Sintra (CMS), a partir de 1993, manifesta a vontade de solucionar o problema da Gruta de Colaride I de forma eficaz e definitiva. Nesse sentido, foi elaborado um projecto conjunto de intervenção entre a AES e a CMS que foi presente em candidatura ao Programa Life. Não tendo sido considerado prioritário pela Comissão Europeia, o projecto foi reformulado com vista à sua candidatura ao Prémio Nacional de Ambiente.
Outras posições têm sido tomadas, nomeadamente a proposta de classificação do local, apresentada ao Instituto Português do Património Arquitectónico e Arqueológico (IPPAAR), por iniciativa da Associação Juvenil Olho Vivo. Análises de água encomendadas pela Olho Vivo ao Instituto Superior Técnico (IST) vieram confirmar a poluição existente na cavidade.
Entretanto, encontramo-nos em meados de 1997 e a Gruta de Colaride I continua à mercê da incúria enquanto o tecido urbano de Massamá se aproxima, ano após ano, do Alto de Colaride e as descargas de águas residuais prosseguem impunemente. A CMS disponibilizou uma verba, prevista no orçamento da autarquia, para levar por diante o projecto de recuperação e preservação da Gruta de Colaride I, no entanto, na prática nada foi realizado.
A gruta mais importante da península de Lisboa, onde se assinalou a presença de espólio arqueológico, a existência de uma colónia de morcegos e cujas argilas medicinais foram apreciadas, espera por uma solução. A desejada recuperação talvez chegue um dia a Colaride, mas “tarde e a más horas”.

5 comentários:

Pedro Cuiça disse...

Thank you very much for your kind attention… I will do my best.

Anónimo disse...

Esta é uma gruta que desde a minha junventude tenho tido uma enorme curiosidade, deverá ser com toda a certeza, uma das mais importantes da zona de Lisboa, tendo em conta que Alvide já leva 650m de desenvolvimento em 3 niveis(e ainda não está terminada a topo)e Colaride são 5 niveis, é provável que Colaride possa ser maior, será um dos meus proximos desafios caseiros, mais uma das grutas esquecidas do roteiro da espeleo Nacional, quem se quiser juntar terei todo o gosto.
Um abraço

Pedro Cuiça disse...

Esta é certamente uma das mais importantes grutas da Península de Lisboa, juntamente com a de Alvide, e as suas argilas tinham fama de ser medicinais... Portanto, acho que aceito a tua proposta de junção :)
Abraço

Anónimo disse...

Olá Pedro
Estive aqui atrasado a passar os olhos pelo arquivo da AES sobre esta cavidade. A AES já dispõem de muito trabalho efectuado dentro de Colaride, mas é necessário compilar toda aquela informação, e claro que é preciso ir à cavidade para verificar se está tudo ou se ainda existe algo por fazer.
Pelo que li num algarocho antigo, esta gruta é tecnicamente difícil, rastejamentos difíceis, escaladas(uso de mastro), níveis inferiores ricos em CO2 e o primeiro nível muito argiloso e poluído, que têm afastado os espeleólogos ao longo destes anos. Talvez esteja na hora de recuperar das cinzas esta importante cavidade.
Um abraço

Pedro Cuiça disse...

Já me tinha inteirado dos "encantos" de Colaride...
Abraço