23/04/2009

Ler e/ou oferecer um livro


Hoje comemora-se o Dia Mundial do Livro e dos Direitos de Autor. A iniciativa foi instituída, em 1996, pela UNESCO. A ideia de celebrar o Dia Mundial do Livro, surgiu na Catalunha, associada ao dia de S. Jorge (23 de Abril). Esta data foi escolhida para honrar a velha tradição catalã segundo a qual, neste dia, os cavaleiros ofereciam às suas damas uma rosa vermelha (de São Jorge) e recebiam em troca um livro. Para além disso, é prestada homenagem a grandes escritores da literatura mundial que nasceram ou morreram nesta data: Shakespeare e Cervantes (falecidos em 1616, exactamente a 23 de Abril), Inca Garcilaso de la Veja ou Vladimir Nabokov. A celebração procura também encorajar as pessoas, especialmente os mais jovens, “a descobrir o prazer da leitura e a respeitar a obra insubstituível daqueles que contribuíram para o progresso social e cultural da Humanidade” (UNESCO).
O livro é comemorado um pouco por todo mundo e Portugal não constitui excepção, sendo muitas as instituições que assinalam este dia, através da realização de feiras do livro, exposições, espectáculos, palestras, declamações ou outras iniciativas. Por exemplo, o movimento de bookcrossing de Portugal vai distribuir gratuitamente livros de autores nacionais em locais públicos, tais como bancos de jardim e paragens de autocarros. No entanto, todas as iniciativas que hoje se realizam não serão demais tendo em conta a realidade nacional. Os portugueses são os europeus que menos lêem. No ano passado 43% dos portugueses não leram um único livro! E, em números redondos, só cerca de um em cada cinco portugueses é que estão agora a ler um livro!! Esta é a pura e dura realidade cultural deste país onde ainda pululam ideias (mal)feitas sobre os livros e a leitura. Ao género de “um doutor é um burro carregado de livros” ou boçalidades do género! Não será, pois, de espantar os preconceitos que ainda abundam em certas cabecinhas pátrias sobre livros e intelectuais, em que se confunde leitura com bibliofagia!!! Não passam de gritantes manifestos de ignorância (ou mais esconsas motivações) em que certos coca-bichinhos tentam demarcar-se, pelos vistos, de supostos bichos (geralmente ratos) de biblioteca. Mas, corações ao alto! No meio destas pretensas confusões há que destacar e saudar este dia dedicado aos livros e à leitura. Ainda para mais quando o panorama internacional no que concerne a livros sobre espeleologia não será o mais auspicioso (e a nível nacional se poderá considerar praticamente inexistente)…
Partilhar livros e flores, nesta primavera, é prolongar uma longa cadeia de alegria e cultura, de saber e paixão, é manter viva a chama que nos alenta o coração e nos aquece a alma, é dar continuidade à demanda de emoções que o livro transmite e o Homem sente.
Esta data é simbólica, sem dúvida, pois os livros, tal como as emoções, devem fazer parte da vida de qualquer humano todos os dias, em qualquer momento. As palavras, as páginas, os livros, são termos secos mas contêm em si, cada um, mensagens e sentimentos tão fortes e vivos como a mais pura das crianças.
Hoje é um excelente dia para ler um livro. Ou, melhor, ler e oferecer um livro. Ou, melhor ainda, ler um livro e oferecer um livro e uma rosa... Que tal?

22/04/2009

Viva a Terra


Simplesmente eco-lógico

Hoje comemora-se o Dia da Terra e, por isso, desenvolvem-se inúmeras iniciativas para celebrar esta data. As edições especiais ou suplementos nos media são regra, tais como as inevitáveis palavras ou conceitos-chave: efeito estufa, alterações climáticas, subida do nível médio das águas do mar, energias alternativas, sustentabilidade, pegada ecológica, reciclar, reutilizar, reduzir, etc.. O jornal Público editou um “Suplemento Dia da Terra”, o jornal Metro apresentou uma “edição verde”, inteiramente dedicada a questões ambientais e (pasme-se) em papel verde, onde lançou o projecto Go Green, etc., etc., etc..
Para comemorar este 22 de Abril, o National Geographic Channel apresenta uma maratona de 24 horas de programas sobre o planeta Terra e formas alternativas de promover a sua conservação. No site do National Geographic Channel tem-se acesso ao microsite Dia da Terra 2009, com conteúdos sobre ambiente e vídeos com testemunhos de cidadãos portugueses relatando pequenos gestos que põem em prática por uma cultura ambiental responsável. O Nat Geo Music organiza um concerto a partir da Piazza Del Popolo, em Roma (Itália), com atracções musicais entre as quais se destaca Ben Harper. Enfim, não faltam iniciativas...
Afinal parece que ainda podemos ter alguma esperança face à cegueira ou ao autismo perante a destruição dos recursos naturais. A sensibilização ambiental é crescente e, sobretudo, apesar de muitas vezes as eco-campanhas não passarem disso mesmo (a venda de produtos com base no rótulo “verde”) e as propostas de preservação/conservação da natureza não passarem de tiros ao lado ou mesmo tiros no pé, por vezes constata-se a ocorrência de disparos mais certeiros! Regressar aos estilos de vida dos anos 70, segundo um estudo publicado no International Journal of Epidemiology, para reduzir o consumo, o número de obesos e, inclusive, as emissões de dióxido de carbono?! E se regressássemos a tempos ainda mais recuados? Começamos a “colocar o dedo na ferida”? A necessidade de mudar hábitos de vida para soluções sustentáveis, duráveis, “ecológicas”? Pois, dito assim, nem parece difícil. No entanto, isso implica mudanças reais, concretas, diremos mesmo radicais.
(…) Tempos de crise como os que hoje atravessamos devem-nos levar a repensar muitos do hábitos fáceis que adquirimos. Não basta, por exemplo, trocar as lâmpadas normais por lâmpadas de baixo consumo: é necessário fazer como os nossos avós, que apagavam a luz quando saíam da sala. Não chega escolher um frigorífico mais eficaz ou uma televisão mais económica, é necessário aprender a utilizá-los de forma racional. E não se pode continuar a escolher um automóvel sem olhar para os níveis de emissão de CO2.
Tudo isto e muito mais tem de ser feito porque nem que colocássemos torres eólicas em todas as cristas das nossas serras e forrássemos o Alentejo de painéis solares produziríamos a energia suficiente para as nossas necessidades. As renováveis são boas, mas não resolvem todos os problemas se mantivermos os nossos actuais hábitos de consumo. É bom não ter ilusões.
” [José Manuel Fernandes ● Editorial in jornal Público (Ano XX, nº 6959, 22/Abr. 09)]
Não temos alternativa, temos de ser simplesmente eco-lógicos sempre, porque todos os dias são Dia da Terra. E este Planeta Azul, Terra Mãe ou Gaia, como se lhe queira chamar, é o nosso lar...
Mas hoje o que não falta são as iniciativas, até a Google adornou-se para a ocasião. Aproveite e faça uma busca acerca deste dia e do estado do ambiente planetário.

Salvar a Terra

(…) Oscar Wilde, com o seu humor único, dizia que não valia a pena fazermos nada pelas gerações vindouras, porque, afinal, elas também não fizeram nada por nós. Mas este discurso cínico tem graça, sobretudo quando nos impede de vivermos apenas para os nossos filhos, o certo é que os efeitos dos crimes que cometemos contra a Terra vão cobrar a factura muito mais cedo do que prevíamos. A OMS alerta, por exemplo, para os riscos para a saúde, nomeadamente de mais malária, cólera, asmas, fome e guerra. E menos saúde mental. Ou seja, mesmo por razões egoístas, convém-nos salvar o planeta. (…)

[Isabel Stilwell ● Editorial do jornal Destak (Ano 8, nº 1131, 22/Abr. 09)]

Aprender a respirar

“He drew me up from the desolate pit, out of the miry bog,
And set my feet upon the rock.”
Psalm 40


Não, por muito que possa parecer, não estamos numa de divulgar pessoal com o nome “Cave” (Gruta), apesar deste se tratar de um blogue sobre espeleologia! Ontem foi um Nick, desta feita trata-se de um Andy (também chamado “Cave”) mas o que o traz à colação é, na verdade, a sua obra Learning to breathe: From the depths of the pit to the roof of the world - an extraordinary odyssey.
Aprender a respirar” não só mas também porque hoje se comemora o dia da Terra e esta obra desenvolve-se das escuras profundezas do universo mineiro de Yorkshire aos brilhantes ambientes das mais altas montanhas do planeta. Andy Cave pertence a uma família de várias gerações de mineiros e, tal como os seus parentes, abandonou a escola para trabalhar numa mina. Essa dura e marcante experiência subterrânea fez com que conhecesse intimamente esse mundo de poeira e escuridão. “It is a world full of superstition and ghost stories; a hidden landscape with its own peculiar unchanging lexicon; a world where black humour combats adversity; a world of tall tales.” Depois deu-se a metamorfose que o levaria às mais altas altitudes, a continuidade nos estudos que o conduziria a um doutoramente, a paixão e a desilusão…
This passion of mine had started long ago when, as an inquisitive child, I scrambled up the local pit muckstack. Later, as a teenage coal miner disillusioned with the world of dirt and darkness, I had fallen in love with real mountain climbing. That night, approaching the tent on the knife-edge ridge of a Himalayan peak, little did I know that this love affair was about to end. The following four days would be the most harrowing of my life.
Aprender a respirar: Das profundezas do poço ao tecto do mundo - Uma extraordinária odisseia” abarca ambientes marcadamente distintos e, contudo, com inegáveis similitudes. Mas esta é sobretudo uma história humana, uma viagem interior, uma biografia de Andy Cave, na primeira pessoa.

21/04/2009

Resgates e Habilidades (II)

Por vezes será recomendável adoptar novas posturas, diferentes pontos de vista. Não ficar refém de ideias e preceitos repetitivos, preconcebidos… Por isso hoje apresentamos algo completamente diferente ou, pelo menos, inesperado num blogue sobre espeleo. É certo que o Nick se chama “Cave” (Gruta) mas isso trata-se apenas de uma coincidência. Hoje queremos mesmo é dar(-vos) música…
Leis de Murphy e outros considerandos à parte, não será sensato ignorar os perigos (sejam objectivos ou subjectivos) inerentes à prática de actividades de ar livre, entre as quais se inclui a espeleologia. E se a melhor forma de encarar os incidentes e os acidentes será baseada na prevenção, também é certo que a aposta no adequado resgate/salvamento é fundamental. E isto porque: os acidentes irão acontecer (accidents will happen)…

20/04/2009

Resgates e Habilidades

A propósito de incidentes e acidentes e respectivos resgates e/ou salvamentos, sejam num contexto de montanhismo ou de espeleologia, será de reiterar a questão das habilitações ou habilidades - como se queira - das equipas envolvidas. Há que dominar as técnicas de resgate/salvamento e pertencer a uma equipa com protocolos de actuação bem "oleados". Tudo o resto não passará de "boas" ou delirantes intenções. No entanto, nem sempre isso bastará...

Granada Subterrânea


Amanhã, dia 21 de Abril, realiza-se a apresentação do 4º livro da série Granada Subterrânea, sob o título “Exploraciones bajo el desierto de piedra”, que aborda as cavidades naturais dos municípios granadinos de Alhama de Granada e Arenas del Rey (Andaluzia).

[Fonte: EC/DC]

17/04/2009

Túneis

A foto do dia do jornal Global de hoje (Ano 2, nº 373, 17/Abr. 09) não sendo sobre espeleologia trata de subterrâneos... Neste caso, artificiais. Aqui fica a digitalização da imagem e o texto que a acompanha.

Foto do dia

PALESTINA Um palestiniano desce para um túnel que, partindo da Faixa de Gaza, o levará até ao Egipto. Estes túneis na fronteira - que nem Israel nem o Egipto conseguem eliminar - são usados para contrabandear alimentos, medicamentos, combustíveis… mas também armas e munições.


Palestina © Ali Ali – EPA/LUSA

16/04/2009

Iniciação à espeleologia

A Escola Portuguesa de Espeleologia, o Departamento de Ensino da Sociedade Portuguesa de Espeleologia (SPE), vai realizar, de 6 a 24 de Maio, um Curso de Iniciação à Espeleologia. O curso tem como “objectivo dar aos participantes a capacidade de visitar uma gruta de dificuldade média, quando enquadrados por chefes de equipa habilitados, e descobrir globalmente os diferentes aspectos culturais, científicos e ambientais relacionados com as grutas e regiões calcárias”.
Para mais informações consulte o site da SPE.

Jornalistas

Bien, mais uma definição-zinha da Uncyclopedia. Desta feita, trata-se de saber o que é um "jornalista"...

"A journalist is a professional truth-teller, most often employed by the government of the country that she lives in. Journalists provide very important, useful, and timely information to keep the public safe. For example, viewers and readers can rest assured that they'll always be up-to-date on the sexual partners of Angelina Jolie, Brad Pitt, and Lindsay Lohan. Some have argued that this only really matters to the future sexual partners of Angelina, Brad, and Lyndsey (e.g. - not you). Unfortunately for these critics, they don't work for a major advertising agency.
By the way, there might be a killer at your window, and he may be about to rape your children. We'll tell you how you can protect them tonight at 10.
"

Blogosfera e Imprensa

[José Pacheco Pereira ● “A lagartixa e o jacaré” in revista Sábado, nº 259, 16 a 22 de Abril de 2009, p. 11]

“(…)
Ter “boa blogosfera” é hoje o mesmo que ter “boa imprensa”

Hoje o jornalismo dos principais órgãos de comunicação não tem independência face à blogosfera dos jornalistas. Participam nela, fazem parte dela, tribalizam-se nela. Transportam para a blogosfera o mundo das “bocas” de redacção. Depois regressam à redacção com as mesmas “bocas” centuplicadas por um exercício de massagem colectiva do ego via posts, comentários e mensagens no Twitter. No pack journalism dos dias de hoje, o rebanho forma-se nos blogues. Criam-se laços que envolvem um número muito escasso de pessoas, 100 no máximo dos máximos, que passam o dia numa logomaquia opinativa feita de amores e ódios e depois transportam para o que escrevem o mesmo caldo de cultura claustrofóbico que é hoje a blogosfera portuguesa, salvo raras excepções. Por isso, hoje, ter “boa imprensa” significa ter “boa blogosfera”, e o mundo do debate público empobrece-se cada vez mais.
(…)”

Campamento Galego


15/04/2009

Geólogos

Um amigo enviou-me um e-mail com uma ligação à Uncyclopedia acerca da definição de geólogo... Não resisto a publicar a "coisa" :)

"Geologists are 'scientists' with an unnatural obsession with geology (rocks and alcohol). Often too intelligent to do monotonous sciences like biology, chemistry, or physics, geologists devote their time to mud-worrying, volcano poking, fault finding, bouldering, dust-collecting, and high-risk colouring. One of the main difficulties in communicating with geologists is their belief that a million years is a short amount of time and their heads are harder than rocks. Consequently, such abstract concepts as "Tuesday Morning" and Lunchtime are completely beyond their comprehension. (This difficulty generates problems particularly when dealing with the girlfriend/boyfriend/spouse and attempting to explain why you were "gone for so long" or why something is taking "so long to occur.")"

DVD sobre Cabo Espichel

O Centro de Estudos e Actividades Especiais da Liga para a Protecção da Natureza (CEAE-LPN) acaba de lançar um DVD que resume um ano de explorações: Cabo Espichel - Retrospectiva de Exploração. O DVD pode ser descarregado a partir do site do CEAE-LPN.
Para mais informações consulte o site do CEAE-LPN ou o blogue Fabuloso Mundo Subterrâneo.

No Umbigo do Mundo

A Expedição Rapa Nui 2009 foi um êxito. A equipa explorou mais de seis quilómetros de galerias (no 11º maior sistema lávico do mundo).


Campamento Andaluz


13/04/2009

Sem palavras

Como se costuma dizer que “uma imagem vale mais do que mil palavras” escusamo-nos de proferir uma que seja. Com ou sem palavras, o significado das coisas não se esgota nessa forma de comunicação. Outras há tão ou mais eficazes... Se nos lembrarmos dos mediáticos cartoons de Maomé facilmente constatamos o poder da ausência de palavras! Essa ausência (qual sedução) permite o preenchimento desse suposto vazio por tudo aquilo que as nossas mentes tenham capacidade de discorrer...

Acidentes vão longos

Esta notícia que saiu hoje no jornal Global, e foi publicada no Diário de Notícias, transmite-nos a crescente preocupação face ao aumento do número de resgates que se tem verificado na Serra de Santa Justa (Valongo). De resto, não se compreende muito bem se se pretende um regresso a um pretenso passado pintado a cores edílicas ou se se deseja partir para a solução, corriqueira nos dias de hoje, de proibir e “resolver o mal pela raiz”. Às tantas seria recomendável colocar sinalética de alerta e, eventualmente, avançar com algumas obras de protecção. De resto, a situação até poderá ser encarada com algum positivismo: ao ritmo a que os bombeiros estão a intervir pode ser que ganhem rodagem e passem a constituir equipas de resgate de qualidade: rapidas, eficazes e seguras.
Serra de Santa Justa (Valongo) © Luis Costa Carvalho (in jornal Global)

"Aumentam os acidentes na serra de Valongo

[jornal Global, Ano 2, nº 369, 13/Abr. 09]

Fojos das antigas minas com 50 a 70 metros de profundidade constituem autênticos perigos.

São 80 hectares de serra, o principal pulmão verde da Área Metropolitana do Porto, e que todos os fins-de-semana recebe em média cerca de 200 pessoas que ali praticam desportos radicais ou fazem piqueniques. O problema é que na Serra de Valongo existem autênticas ratoeiras, fojos a céu aberto, pertencentes às antigas minas romanas de extracção de ouro, cobertos pela vegetação e com uma profundidade de 50 a 70 metros. Nos últimos meses os bombeiros tiveram um aumento de 70 por cento de solicitações, devido às pessoas que ali caem e sofrem fracturas múltiplas.
Durante décadas a Serra de Santa Justa, em Valongo, era procurada por quem a conhecia bem, nomeadamente pelos moradores das redondezas. Os acidentes nas galerias eram raros mas a verdade é que, desde que o parque municipal foi criado, fazendo ligação directa com a serra, o cenário inverteu-se. Os frequentadores do parque ao entrar na serra não têm qualquer sinalética de alerta para os perigos e os acidentes acontecem. “Há cerca de uma semana duas crianças que jogavam à bola no parque entraram na zona da vegetação e perderam-se. Quando recebemos o alerta dos pais a nossa preocupação foi a de procurar junto às aberturas dos fojos das minas mas, até para nós, esse é um trabalho difícil devido ao facto da serra não estar cartografada”, afirmou ao DN Gilberto Gonçalves, comandante-adjunto dos Bombeiros de Valongo. Felizmente os dois irmãos, de seis e nove anos, foram encontrados e livres de perigo.
“Temos retirado pessoas do fundo dos poços, muitas são encontradas imobilizadas com fracturas múltiplas sofridas devido à queda. Outras não sofrem danos mas depois percorrem as galerias subterrâneas e desaparecem”, acrecenta o bombeiro. Uma operação de resgate pode demorar cinco a seis horas. Desportos radicais, espeleologia, parapente e local para merendas são os argumentos que levam a que actualmente a serra tenha uma procura fora do normal. Enquanto há dez anos os bombeiros eram chamados à serra em emergência uma vez por ano, agora são duas a três vezes por mês."

Mais do mesmo?

"Património está esquecido

[Ana Afonso Nunes ● jornal Público, Ano XX, nº 6949, 12/Abr. 09, p. 18]

A Gruta do Zambujal, em Sesimbra, classificada como Monumento Natural há 30 anos devido ao seu património único a nível nacional, encontra-se em estado de degradação após algumas derrocadas no seu interior que levaram à perda de formações muito importantes e que eram essenciais e únicas a nível nacional, denuncia Francisco Rasteiro, presidente do Núcleo de Espeleologia da Costa Azul (NECA).
O Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade (ICNB), a quem compete a responsabilidade pela gestão da gruta, desvaloriza a situação, considerando que “esta queixa não faz sentido”.
A história desta gruta remonta ao período Jurássico Médio, mas foi descoberta apenas em 1978 durante trabalhos de uma exploração de inertes situada no local pertencente ao Parque Natural da Arrábida. Nessa altura, já tinha sido alvo de trabalhos de extracção de pedra.
Classificada no ano seguinte, nunca teve um regulamento, obrigatório a todo o património classificado. Francisco Rasteiro recorda que entre 1994 e 1997 terão ocorrido várias derrocadas no local: “Na segunda visita que fiz a esta gruta existiam máquinas da pedreira a trabalhar numa parede, situação que na altura foi alvo de uma queixa ao Fórum Ambiente.”
Em 1998 terão sido tentadas negociações com o ICNB que “não deram em nada”, acrescenta Francisco Rasteiro, para quem “a autarquia e o ICNB terão tido medo de expropriar os terrenos” que actualmente se encontram fechados ao público.
Augusto Pólvora, presidente da Câmara de Sesimbra, esclarece que “houve actos de vandalização na gruta quando foi descoberta”, mas que actualmente “a gruta está bem conservada”. E partilha a opinião do NECA, segundo a qual há potencial interesse turístico por explorar: “Havia um acordo para a exploração turística do local através de uma empresa com a participação da autarquia.” Porém, o projecto acabou por ser abandonado posteriormente, quando o Plano de Ordenamento da Arrábida não o permitiu.
O ICNB afirma que “devido às derrocadas que já existiram fez vedações para proteger os valores naturais da gruta”, encerramento que, para o espeleólogo “não está adequado para a protecção do microclima existente no interior da gruta, pois há luz, o que origina fungos”. O autarca sesimbrense tem outro relato ainda sobre os factos, afirmando que “há dez, 12 anos o então presidente da câmara mandou colocar pedras grandes para bloquear a entrada da gruta e preservá-la”.
O Instituto de Conservação da Natureza afirma que “as derrocadas se deram apenas no exterior, não tendo existido perturbação no interior”, acrescentando que “a entrada na gruta só é autorizada neste momento para fins de monitorização”, nomeadamente da comunidade de morcegos situada no interior.”


*****

Gruta do Zambujal (Arrábida) © Francisco Rasteiro (1995)

A Gruta do Zambujal, depois de um período de anonimato (quase diria, de estranho silêncio e esquecimento!), voltou à ribalta por motivos recorrentes. Mais uma vez as derrocadas, o encerramento em vigor, as vontades de parar com a exploração de pedra e passar a usos turísticos! Derrocadas internas não se verificaram, apenas se registaram derrocadas externas, motivo pelo qual foi encerrada a gruta! Primeiro era preciso encerrar a cavidade sob pena de a delapidação da mesma continuar de forma irremediável, depois tornou-se fundamental abrir a gruta ao turismo para garantir a sua preservação! E agora?… Agora, realmente de novo, regista-se a posição frontal do Instituto da Conservação da Natureza e Biodiversidade face às críticas: estas não têm sentido.
Para quem não tenha reparado, o jornal e/ou a revista Forum Ambiente não se tratavam de uma espécie de “provedor do património subterrâneo” que se pronunciava face a eventuais queixas apresentadas. Foram simplesmente órgãos informativos que veicularam conteúdos noticiosos considerados relevantes e foi nesse contexto que divulgaram, mais de uma vez, a situação caricata da Gruta do Zambujal. Aliás, graças a essas peças jornalísticas (e outras publicadas noutros órgãos noticiosos) é hoje possível “montar” (ou “desmontar”, como queiram) a evolução de acontecimentos em torno da Gruta do Zambujal. Será também muito interessante fazer uma leitura das entrelinhas ou das gritantes lacunas face ao discurso veiculado nas diversas ocasiões… Se é certo que para um bom entendedor meia palavra basta, também não será despropositado focarmo-nos precisamente nos significados encerrados na ausência das ditas (palavras, entenda-se). Tão ou mais importante quanto aquelas que foram expressas, os seus significados ou os contextos inerentes às mesmas. Enfim, exercícios que se recomendam àqueles que verdadeiramente se preocupam com a conservação/preservação do património espeleológico para além de inconfessos interesses individuais ou de grupos de pressão.
Não deixa igualmente de ser interessante o argumento da(s) derrocada(s) que, afinal de contas, se revela um pau de dois (ou mais) bicos, consoante o uso que se queira fazer desse(s) pretenso(s) acontecimento(s). Aliás, tal “argumentação” não é nova nem, muito menos, surpreendente. Já tínhamos assistido a algo parecido no tocante à Caverna do Poço dos Mouros, sita na Rocha da Pena (Algarve). Depois de ter sido divulgada a situação de eminente derrocada da referida caverna esta notícia propagou-se e ganhou direitos de “verdade” insofismável à medida que era, pura e simplesmente, repetida! A "coisa" até deu direito a cartaz de alerta e essa verdade lapalissada (que rima com palhaçada) ainda hoje é repetida por espeleólogos e/ou cientístas da nossa praça... Diz-se que uma mentira de tantas vezes ser repetida se torna numa verdade, não é? Moral da história: passadas quase duas décadas ainda se aguarda a derrocada da cavidade!?... Também se diz que pior que uma mentira será uma meia verdade... E, nesse pressuposto, é certinho que algum dia a cavidade irá ruir, não é? Pois bem, fiquemos por aqui; porque, mais uma vez, para bom entendedor…
Por último, gostaria apenas de chamar a atenção para o jornalismo que se pratica e, claro, desafiar os leitores a fazerem uma leitura critica da peça noticiosa em questão. E, já agora, se estiverem para ai virados, releiam o que foi publicado na Forum Ambiente sobre a Gruta do Zambujal e façam os respectivos juízos de valor (a maior parte das peças já se encontram publicadas no Spelaion). E, claro, façam também uso e "abuso" da dita leitura critica. Já existe suficiente matéria publicada para se poderem retirar algumas conclusões. Antes isso!!!
Caverna do Poço dos Mouros (Algarve) © João Varela (2004)

09/04/2009

Tempos de mu-danças (IV)


Apesar de muitos preverem que a "coisa" está a meter água, no que toca à evolução o caminho está em aberto... Portanto: ainda há esperança, não é? Boa Páscoa!

Tempos de mu-danças (III)

Evolução e/ou involução? Os cenários, como não poderia deixar de ser, são diversos...





Tempos de mu-danças (II)

Não sei se será devido ao facto de estarmos no ano em que se comemora o bicentenário do nascimento de Charles Darwin e o 150º aniversário da publicação do livro “A Origem das Espécies” mas certo é que temos dado por nós a pensar nas supostas evoluções do Homo!

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades… Se dantes o Homem tinha tempo para contemplar as estrelas ou ficar horas frente a uma fogueira, de há uns anos a esta parte que as suas atenções se viraram para a televisão ou, cada vez mais, para o computador. Evolução dirão uns, involução pensarão outros! Óbvio será o progressivo afastamento do contacto com a natureza, pura e dura, e as politicamente correctas aproximações a sucedâneos da mesma. Aproximações, estas, muitas vezes eivadas de obsessões de segurança num pretenso contexto desportivo de risco e aventura! Estranhas incongruências daqueles que se (auto)denominam sapiens sapiens… E consta que, apesar de todas as invenções e tecnologias, cada vez mais há cada vez menos tempo! Contraditório? Não, ora essa! De forma alguma! É apenas algo que faz parte do l’air du temps

08/04/2009

Espeleo-socorro em Aquila

"A estas horas todos conoceremos ya el tremendo desastre causado por los movimientos de tierras en la zona de L’Aquila en Italia. Lo que probablemente será más desconocido es la labor que los espeleólogos del Grupo de Rescate Alpino están teniendo en el lugar de la catástrofe.
Tras 5 horas de trabajos en lo que queda de un edificio de 5 plantas totalmente derrumbado, los espeleólogos consiguieron acceder al cuerpo todavía con vida de Marta, una joven que permaneció 24 horas bajo los escombros.
Como reconoce Aldo, un miembro del grupo: “Ha sido un rescate muy delicado, ya que las vigas presentaban gran riesgo de desplome. Y luego tuvimos que tener mucho cuidado a la hora de liberar las piernas”. En efecto, los detalles del rescate son impresionantes: Marta fue encontrada en su cama y para rescatarla, bajo toneladas de escombros, los rescatadores tuvieron que desmontar la cama para que la joven resbalara
Tal y como dice el periódico Corriere della Sera, Marta debe a estos hombres su vida, así como a todos aquellos que han trabajado incansablemente en las ruinas del edificio. Yo añadiría que sino hubieran entrado primero los espeleólogos y se hubiera metido la pala a desescombrar, probablemente sólo se hubiera encontrado un cadáver.
Desde aquí quiero enviar un caluroso abrazo para los valientes rescatadores y nuestro pésame para las víctimas.
"

Vá-se lá...

Este cartoon lembra-nos, imediatamente, o triste caso da Gruta da Furninha, que tivemos oportunidade de divulgar no jornal Forum Ambiente e, posteriormente, no Spelaion. Pelos vistos, serão inúmeros aqueles que vislumbram uma relação directa entre WC's e cavidades subterrâneas :) Vá-se lá saber porquê?

Mastodontes eólicos

As torres eólicas e a paisagem

Com a complacência esperada, pois tratava-se de uma energia limpa, alternativa, renovável, as torres eólicas foram surgindo gradualmente no alto dos montes, em locais praticamente inacessíveis. Os ecologistas terão manifestado o seu agrado, os governantes apregoaram o apoio, os proprietários dos terrenos fizeram o seu negócio, a EDP beneficiou e diminuiu a importação. Os consumidores em geral não retiraram qualquer proveito. Os mastodontes multiplicaram-se e destruíram a paisagem portuguesa. Basta! É tempo de começar a desmantelá-los. Portugal parece um país quixotesco e irreal de Teletubbies.

J. Leitão Baptista (revistas “Evasões” e “Volta ao Mundo”) in Global (Ano 2, nº 367, 6/Abr. 2009)

Serra de Candeeiros © Pedro Cuiça (2008)
*****
Não subscrevo por inteiro as afirmações proferidas mas, aliás, como já não constitui novidade para ninguém, não deixo de questionar a forma como se tem processado a instalação dos aerogeradores, tão em voga no nosso país, e o impacte inegável dos mesmos, nomeadamente no que concerne à paisagem.
No que se refere ao quixotesco da questão não posso estar mais em desacordo. Se o Dom Quixote de La Mancha, ou alguém com tendências realmente quixotescas, andasse por terras lusas certamente já teria atacado essas mostruosas ventoinhas...

03/04/2009

Regaleira Subterrânea II

A Fundação Cultursintra, o Comité Português do Ano Internacional do Planeta Terra (AIPT - UNESCO), a Federação Portuguesa de Espeleologia (FPE) e a Associação dos Espeleólogos de Sintra (AES), convidam-no a assistir ao Ciclo de Conferências e à Exposição sobre o Ano Internacional do Planeta Terra que se realizam amanhã (sábado dia 4 de Abril) na Quinta da Regaleira, em Sintra, a partir das 14:30.
A conferência conta com três sessões temáticas, uma primeira sobre o “Património Geológico e Natural de Sintra”; uma segunda sobre “Estudos, Monitorização e Salvaguarda do Património Espeleológico Vivo e Mineral” e ainda uma terceira sobre o "Paradigma da Regaleira". Durante a noite poderá ainda acompanhar uma visita temática pelos Subterrâneos da Regaleira a cargo da AES.
A exposição manter-se-á até ao dia 19 de Abril.


PROGRAMA

14:30- Sessão de Abertura (Oficina das Artes)
• Dr Fernando Seara - Presidente da Câmara Municipal deSintra / Presidente do C. A. da Fundação Cultursintra
• Embaixador Fernando Andresen Guimarães - Presidente da Comissão Nacional da UNESCO – Portugal
• Eng. Manuel Freire - Presidente da Federação Portuguesa de Espeleologia (FPE)
• Sr. Gabriel Mendes Presidente da Associação dos Espeleólogos de Sintra (AES)
15:00– Visita guiada à Exposição do Ano Internacional doPlaneta Terra (Oficina das Artes)15:30– abertura do Ciclo de Conferências (Palácio da Regaleira)

1ª Sessão: Sobre o Património Geológico e Natural de Sintra
Moderação: Prof. Lúcio Cunha
• Prof. Doutor Galopim de Carvalho: “À descoberta da geologia de Sintra e dos dinossáurios que por aqui andaram
• Prof.ª Doutora Mª Luísa Rodrigues (Associação Portuguesa de Geoturismo): “Geoturismo-Lapiás da Granja dos Serrões
• Drª Maria João Raposo (Directora do Departamento de Cultura e Turismo da Câmara Municipal de Sintra: “Apresentação do Museu de História Natural de Sintra

2ª Sessão: Estudos, Monitorização e Salvaguarda do Património Espeleológico Vivo e Mineral
Moderação: Arq. João da Cruz Alves
• Prof.ª Doutora Luísa Rodrigues (ICNB-UEH)/GabrielMendes (CCient.FPE): “Criação do Morcegário Laboratorial - Importância na conservação dos morcegos
• Dra. Sofia Reboleira (secretária da CECC/FSE): “ComissãoEuropeia para a Conservação de Cavidades - Breve apresentação
• Prof. Doutor José Carlos Kullberg (FCT-UNL): “Gruta do Zambujal Sesimbra - Estudo de impactos negativos naturais vs. acção do homem

17:15– Ciclo de Conferências (cont.) 3ª Sessão: O Paradigma da Regaleira
Moderação: Dr. Luís Patrício
• Arqº. João Cruz Alves: "A. A. Carvalho Monteiro -Filósofo da Natureza - e o projecto ambiental da Quinta da Regaleira"

19:30- Assinatura de Protocolo de cooperação tecno-científica entre a Fundação CulturSintra / FPE / AES
Dr. Luís Patrício - Vereador da Cultura e Educação da CMS /Vice Presidente do C.A. da Fundação Cultursintra
Arqº. João Cruz Alves - Adm. Delegado Fundação Cultursintra
Engº. Manuel Freire - Presidente da Federação Portuguesa de Espeleologia
Sr. Gabriel Mendes - Presidente da Associação deEspeleólogos de Sintra

21:30 - Regaleira Subterrânea – Visita telúrica nocturna ao património espeleológico da Quinta da Regaleira

19:45 - Conclusão do Ciclo de Conferências

Pausa para Jantar

21:00– Cabo Espichel - Lançamento do Vídeo da LPN-CEAE (Junto às Cavalariças do Palácio)


Organização do evento: Fundação Cultursintra / Comité Português do AIPT (UNESCO) / FPE -Federação Portuguesa de Espeleologia /AES - Associação dos Espeleólogos de Sintra

Para mais informações, consulte a organização através do e-mail gabriel.mendes@sapo.pt ou do telemóvel 962924142.

[Fonte: NALGA]

02/04/2009

Tempos de mu-danças

Os tempos são de mudanças "radicais" (ou nem por isso?). Certo é que, mais depressa ou mais devagar, de forma mais brusca ou mais subtil, insidiosa ou frontal, as coisas mudam. É caso para dizer: mudam e de que maneira! Pelo menos em certos aspectos... Não fosse o caso deste ser um blogue sobre espeleologia e ninguém estranharia esta "conversa", face às óbvias revoluções que se processam em (quase) todos os níveis do real, áreas e temáticas... Nessa base, será interessante constatar certas afectadas tendências como seja a empolada especialização do saber ou as cada vez mais pérfidas proibições, por exemplo no que concerne ao acesso à natureza. Qualquer dia estamos apenas autorizados a explorar centros comerciais e isto se tivermos efectuado o curso de iniciação ao andar a pé (portanto o nível I); tendo em conta que a descoberta do acto de andar, inerente à tenra infância, será dada de barato (restará saber até quando).