11/12/2008

Água e Vinho subterrâneos

Uma equipa de espeleólogos húngaros descobriu, no passado mês de Novembro, um grande lago de águas termais na cavidade Molnár János, em Budapeste (Hungria). Essa cavidade, conhecida desde 1970, forma parte de uma vasta rede subterrânea de origem hidrotermal responsável pelos famosos banhos termais da cidade de Budapeste.
O presidente da câmara do Distrito 2 de Budapeste, Zsol Láng, onde se situa a Molnár János (em Buda), diz que irá fazer tudo o que esteja ao seu alcance para que a UNESCO declare esta cavidade como património mundial. O lago, considerado um dos maiores hidrotermais de que se tem conhecimento, com 86 metros de comprimento, 26 metros de largura e 8 metros de profundidade mínima, apresenta uma temperatura de 27º C.

[Fonte: Espeleobloc]








Post Scriptum: Na nossa última estadia em Budapeste não tivemos oportunidade de conhecer as águas termais mas, em contrapartida, vimos o Pai Natal na Szemlo-hegy e descobrimos não águas termais, nem água mineral, mas vinho no Budavári Labirintus! Nem mais… :)

Szemlo-hegy (Budapeste) © Pedro Cuiça (2006)

Budavári Labirintus (Budapeste) © Pedro Cuiça (2006)

Isso é tudo especulação

Gruta do Zambujal
Derrocada de Sítio Classificado

[FORA DE PORTAS ● jornal Forum Ambiente nº 186, 19 de Junho de 1998]

O fecho da Gruta do Zambujal estava marcado para Junho. Infelizmente, a derrocada de parte do nível inferior da cavidade constituiu a novidade do mês. A conservação desse Sítio Classificado revela-se, cada vez mais, uma impossibilidade e os espeleólogos temem o pior: a derrocada de toda a gruta.

Gruta do Zambujal © Francisco Rasteiro (1998)

Não é todos os dias que se faz futurologia. Na verdade, a previsão do futuro da Gruta do Zambujal não suscitava grandes dúvidas. Era tudo uma questão de tempo. Passa-se a explicar. O jornal Forum Ambiente alertou, na edição de 5 de Junho, para o abandono e destruição da Gruta do Zambujal. No dia seguinte (sábado, 6 de Junho), o Núcleo de Espeleologia da Costa Azul (NECA) constatou que parte do nível inferior da cavidade tinha sofrido uma derrocada recente.
O alerta não se fez esperar, a derrocada na Gruta do Zambujal saltou para as páginas dos jornais. A pérola da espeleologia portuguesa voltou a ser notícia e, mais uma vez, por motivos relacionados com a sua destruição. Destruição que, ao longo de duas décadas, transformou essa “jóia”, de forma inexorável, num “buraco” em perigo de ruir na sua totalidade. É que as rochas nas quais a gruta se encontra estão intensamente fracturadas, demonstrando de modo cada vez mais evidente a instabilidade da mesma.
Os vereadores da Câmara Municipal de Sesimbra reuniram-se de urgência, no dia 9 de Junho (terça-feira), para avaliarem o sucedido na Gruta do Zambujal, tendo posto ao corrente da situação o primeiro-ministro, António Guterres, e a ministra do Ambiente, Elisa Ferreira. Os responsáveis do Parque Natural da Arrábida (PNA) estiveram incontactáveis até ao fecho da edição e a pedreira de José Galo limitou-se a dizer: “Isso é tudo especulação”.
Em visita à gruta, no dia 10 de Junho, a Forum Ambiente presenciou a área afectada pela derrocada e, em conversa com a população confirmou que “os rebentamentos são quase todos os dias”. A Guarda Nacional Republicana, de Sesimbra, referiu que não foi participada qualquer ocorrência de explosão fora do comum. No entanto, o “povo” já está habituado aos “abalos de terra” e, por medo ou indiferença, já não se dá ao trabalho de reclamar.

Vergonhosa indiferença, manifesta incompetência
A Gruta do Zambujal já não é a maravilhosa cavidade de há 20 anos atrás. Com grande parte das concreções destruídas, parcialmente entulhada por blocos e desmoronada, o seu valor patrimonial e científico, bem como o seu aproveitamento turístico, encontram-se seriamente comprometidos. Duas décadas após a sua classificação como área protegida de interesse espeleológico, a Gruta do Zambujal continua à mercê da burocracia e da ineficiência das entidades responsáveis, entre as quais se inclui o Instituto da Conservação da Natureza (ICN), que alega invariavelmente carência crónica de meios.
Para o NECA, “o ICN mostra-se completamente desinteressado pela conservação da Gruta do Zambujal, alegando existirem problemas de maior prioridade para serem resolvidos”. O PNA e a Câmara Municipal de Sesimbra (CMS) também não têm um historial famoso, no que se refere à conservação e dinamização desse geo-recurso cultural. A CMS, ao tempo do anterior executivo, chegou mesmo a entulhar uma das entradas da cavidade com toneladas de blocos. Por incrível que pareça, não foram apuradas responsabilidades e ninguém foi punido.
A indiferença a que a gruta tem sido votada ao longo dos anos está bem patente no terreno. Resultado de diversos actos de vandalismo, bem como da incompreensível extracção de pedra, a incúria e desresponsabilização são bem evidentes. Aliás, segundo o NECA, os recentes desmoronamentos verificados na Gruta do Zambujal terão sido originados por fortes explosões provocadas pela laboração da Pedreira de José Galo. Mas será um “pleonasmo” referir a ilegalidade da laboração da pedreira a menos dos 500 metros desse Sítio Classificado, a destruição de grande parte do vale da Ribeira do Cavalo ou o desaparecimento das pegadas de dinossáurios aí existentes. “Outros valores se levantam…” e a (des)responsabilidade é de todos em geral e de ninguém em particular.
O património espeleológico é que não se compadece com a actuação de quem de direito. Tal como foi referido no jornal Forum Ambiente (nº 184, de 5 de Junho de 1998), talvez o concelho de Sesimbra perca um pólo de desenvolvimento local e o país uma das mais belas grutas conhecidas em território nacional, se é que já não perdeu.



OPINIÃO
Há que dizê-lo…
Com ou sem frontalidade


15 horas: o senhor engenheiro ainda não chegou. 15 horas e 30 minutos: espera-se o senhor engenheiro, a qualquer momento. 16 horas: o senhor engenheiro já se encontra nas instalações, mas em paradeiro desconhecido! 17 horas e 25 minutos: o senhor engenheiro está ao telefone, no entanto não poderá aguarda por ele, em linha, porque a central telefónica ficará ocupada. 17 horas e 30 minutos: o senhor engenheiro acaba de sair. Não, não é o director do Parque Natural da Arrábida (PNA). Esse encontra-se de férias. A pessoa que a Forum Ambiente tentou contactar na terça-feira (dia 9 de Junho), para prestar declarações acerca do sucedido na Gruta do Zambujal e da posição do PNA, é supostamente a que estaria a substituir o director.
O presidente do Instituto da Conservação da Natureza (ICN) também se encontrava incontactável e não havia ninguém no instituto que prestasse esclarecimentos sobre a Gruta do Zambujal. Aconselharam-nos a contactar o PNA, o que já tínhamos feito talvez “umas poucas três dezenas de vezes”. Na Câmara Municipal de Sesimbra o panorama não foi mais animador. O presidente da edilidade encontrava-se de férias e os vereadores estiveram incontactáveis, pois encontravam-se reunidos devido à preocupante situação da Lagoa de Albufeira e face ao recente abatimento da Gruta do Zambujal. Nos dias 12, 15 e 16 de Junho, a Forum Ambiente voltou à carga, dando descanso aos visados nos feriados e fim-de-semana. Mas sem resultados. Até ao fecho da edição (dia 16) a situação de incomunicabilidade das pessoas e entidades referidas manteve-se.
Sem comentários…

03/12/2008

Ena pá!

Serra de Candeeiros © Pedro Cuiça (2008)
Serra de Candeeiros © Pedro Cuiça (2008)
Serra de Candeeiros © Pedro Cuiça (2008)
Serra de Candeeiros © Pedro Cuiça (2008)
Ena pá! 2008? Sim, estamos de facto no século XXI e num novo milénio... Não parece, mas assim é!!!
Como se costuma dizer: uma imagem vale mais do que mil palavras. E estas, sendo meia dúzia, falarão por si… Portanto, palavras para quê? O que é natural é bom, não é? E quando se encontra num parque natural (como o PNSAC) as expectativas ainda serão maiores! Mais natural, mais natureza, mais verde, mais ecológico, mais sustentável, mais… Blá, blá, blá...
De qualquer modo, para quem ache imprescindível uma explicaçãozinha, aqui fica... À falta de algum considerando mais profundo, só nos ocorre mesmo algo bem superficial :

“Marisco é bom,
Marisco satisfação,
Marisco é bom,
Marisco é-i…”


Serra de Candeeiros © Pedro Cuiça (2008)
Serra de Candeeiros © Pedro Cuiça (2008)

Grande pedra...

Ordenamento do Território
O reino da pedra

[FORA DE PORTAS ● jornal Forum Ambiente, nº 159, 12 de Dezembro de 1997]

Serra da Arrábida © Francisco Rasteiro (1997)

O Núcleo Cicloturista de Sesimbra organizou um debate sobre desenvolvimento sustentável no concelho. Na passada semana demos a conhecer as novidades acerca da prática de actividades de ar livre no Parque Natural da Serra da Arrábida. Mas não poderíamos deixar passar em branco as pedreiras e a Gruta do Zambujal.

No dia 29 de Novembro, o Núcleo Cicloturista de Sesimbra (NCS) organizou um debate sobre desenvolvimento sustentável no concelho. Espaço de discussão sobre preservação das riquezas naturais do concelho de Sesimbra, contou com o apoio do Instituto de Promoção Ambiental (IPAMB), Confederação Portuguesa das Associações de Defesa do Ambiente (CPADA) e Núcleo de Espeleologia da Costa Azul (NECA).
O mar constituiu o primeiro tema, onde se debateram sobretudo aspectos ligados à indústria pesqueira. Mas foi a serra, o segundo tema do debate, que levantou as mais acesas polémicas. Na semana passada abordaram-se as novidades acerca da prática de actividades de ar livre na área do Parque Natural da Arrábida (PNA). Agora vamos focar a indústria extractiva e o problema da Gruta do Zambujal. Questões, aliás, em torno das quais se centrou a maior parte do debate. Carlos Costa, da Universidade Nova de Lisboa, iniciou o segundo tema do debate afirmando que “na serra vamos ter que privilegiar a temática das pedreiras. São ou não as pedreiras que laboram no PNA essenciais para o concelho de Sesimbra, para a área metropolitana de Lisboa e para o País?” questionou esse geólogo. A clivagem situar-se-á entre aqueles que pensam que as pedreiras são essenciais e os que pensam que poderíamos prescindir delas.
A utilidade das pedreiras será inquestionável. No ano passado foram retiradas oito milhões de toneladas de pedra do PNA (fundamentalmente britas para a construção civil), o que correspondeu a dois milhões e meio de contos. A localização das ditas pedreiras é que não gera consensos. “À semelhança do que defendeu há cerca de dez anos o Grupo de Trabalho da Arrábida da Liga para a Protecção da Natureza (LPN), é necessário a interdição de novas frentes de pedreiras dentro do perímetro do PNA, bem como da ampliação de outras que possam perigar áreas de especial interesse ecológico, como por exemplo a área da Serra do Risco”, salientou Carlos Costa.
Por outro lado, as pedreiras de Sesimbra encontram-se no esforço máximo de laboração e espera-se que a indústria extractiva venha a sofrer um refluxo económico no próximo ano, devido à finalização dos trabalhos da Expo 98 e da Ponte Vasco da Gama. Alguns mais fundamentalistas da área do ambiente suspirarão de alívio. No entanto, isso poderá implicar que as empresas não possuam verbas para fazer aquilo que já deveriam de ter feito há muito tempo: a recuperação paisagística. “Desiludam-se aqueles que pensam, que aceitam, teorias do género: primeiro exploramos, depois recuperamos. Isso não existe em nenhuma parte do mundo. O que se faz é um plano sequencial de exploração e de recuperação. Porque a recuperação custa qualquer coisa como 10 a 27 por cento do valor da produção. Ninguém vai aplicar esses valores na recuperação, se não estiver a colher lucros de exploração.
Mas não houve só más notícias no debate sobre desenvolvimento sustentável no concelho de Sesimbra. O plano de ordenamento das pedreiras de Sesimbra está prestes a ser aprovado. “Se esse plano for aprovado, a vantagem que tem, relativamente a não ser aprovado (depois de se realizarem as negociações parciais), é acima de tudo a de que pode ser um plano conjugado. Um plano que contempla soluções que se articulem e que permitam a garantia de que a qualidade do ambiente vai novamente pode ser colocada a níveis elevados compatíveis com o nível de protecção da área.
Para Ricardo Paiva, director do PNA, “convém não esquecer que somente três por cento da área do parque é ocupada por pedreiras, os restantes 97 por cento não têm pedreiras”. Esses 97 por cento pertencem à zona que está minimamente lesada por pressões económicas, políticas ou dos mais variados interesses. “Apesar de tudo, quem for dar uma volta na Arrábida, com os defeitos que tem - há lixos, há entulhos, há agressões ao ambiente,… e eu não os quero esconder - de qualquer forma se não houvesse parque o que é que seria actualmente esta área.
Outro dos assuntos que mereceu aturada atenção foi o da Gruta do Zambujal. Esta, após o longo interregno a que foi votada sob a alçada do ICN, passou este ano para a jurisdição do PNA. Ricardo Paiva referiu que “no plano de actividades do ano que vem inscrevi uma verba para resolver de uma vez por todas o problema da Gruta do Zambujal”. Segundo Ricardo Paiva, as reuniões - nomeadamente com a Câmara Municipal de Sesimbra, Núcleo de Espeleologia da Costa Azul (NECA) e ICN (pelo passado que teve no estudo e na condução de todo o processo da Gruta do Zambujal) - irão continuar.
Mas foi estabelecido um calendário com vista ao encerramento da cavidade. Aliás, já foi efectuado um encontro com especialistas tendo em vista o encerramento da mesma. A gruta vai ser encerrada, mas o acesso aos morcegos será assegurado. Apenas a entrada do Homem será interditada por tempo indeterminado, até que esteja finalizado um estudo de aproveitamento turístico da caverna. “Mas com base em estudos científicos, para sabermos a capacidade de carga e o potencial aproveitamento ou não das grutas do Zambujal”, assegurou o director do PNA. “Neste momento estamos a avançar, penso que a bom ritmo, e quase que poderia dizer que em meados do ano que vem teremos esta questão do encerramento da gruta resolvida”, finalizou.
Por último, refira-se que está em curso a reclassificação do PNA e espera-se que o Cabo Espichel venha a fazer parte do Parque Natural. Mas a área da Gruta do Zambujal e Vale da Ribeira do Cavalo, bem como zonas sensíveis do ponto de vista da construção clandestina, estão, à partida, excluídas. O parque relega as responsabilidades para outras entidades. “Nós somos Instituto de Conservação da Natureza, não somos instituto do desordenamento territorial”. Novos rumos estão traçados, agora é esperar para ver.

P.S.: Não é um Instituto de Desordenamento do Território. E de Ordenhamento?

19/11/2008

Conferência em Coimbra

O Instituto de Estudos Geográficos da Universidade de Coimbra, no âmbito do Mestrado em Geografia Física - Ambiente e Ordenamento do Território, vai realizar no próximo dia 28 de Novembro (6º feira), na Sala Fernandes Martins do Colégio de S. Jerónimo (2º andar), pelas 17.00 horas, uma conferência subordinado ao tema “Carso e Paleocarsos em Itália meridional (Puglia) - As morfo-sequências subterrâneas enquanto arquivos de dados” a proferir pelo Doutor Vincenzo Iurilli do Departamento de Ciências da Terra da Universidade de Bari (Itália).

[Fonte: Sérgio Medeiros in Espeleo.pt]

04/11/2008

Ecologia Subterrânea

[Fonte: blog do EC/DC]

Na boa... (II)

Espeleologia
Lapa do Médico

Cavidade ideal para o desenvolvimento de técnicas de progressão dentro de gruta. Com algumas passagens estreitas entre salas, a geologia é diversa nesta gruta, passando por zonas de espeleotemas, a outras onde os movimentos tectónicos estão bem latentes.
Preço: 16 €
Duração: manhã
Grau de dificuldade: médio/alto
Informações: (…)
Ponto de encontro: Praia das Bicas
Org.: (…)”

[Sesimbra'acontece - Agenda de Acontecimentos do Concelho de Sesimbra, Ano 3, nº 32, Novembro 2008]

Mata do Solitário © Joana Santos

*****

Apraz-nos saber que a geologia é diversa e que os movimentos tectónicos são latentes... Antes isso do que lactentes! O que nos surpreende é a situação de se estar a publicitar uma actividade numa área de reserva integral em pleno Parque Natural da Arrábida (PNA)! Pois, porque a sua simples realização, sem divulgação, é o pão-nosso de cada dia. O fenómeno não é de hoje, nem de ontem...

Cordilheira da Arrábida

Ordenamento Turístico
Regras na Arrábida

[FORA DE PORTAS ● jornal Forum Ambiente nº 158, 5 de Dezembro de 1997]

As actividades de ar livre, no Parque Natural da Arrábida, vão estar sujeitas a regras precisas, integradas num plano de ordenamento turístico. O debate organizado pelo Núcleo Cicloturista de Sesimbra, no passado sábado, centrou-se sobretudo nas pedreiras e na Gruta do Zambujal. No entanto, o turismo foi apontado como um dos problemas mais graves dessa área protegida.

No passado sábado, dia 29 de Novembro, o Núcleo Cicloturista de Sesimbra (NCS) organizou, no auditório - Centro de Formação Profissional para Sector das Pescas, em Sesimbra, um debate sobre desenvolvimento sustentável neste concelho. Espaço de discussão sobre a preservação das riquezas naturais do concelho de Sesimbra, contou com o apoio do Instituto de Promoção Ambiental (IPAMB), Confederação Portuguesa das Associações de Defesa do Ambiente (CPADA) e Núcleo de Espeleologia da costa Azul (NECA). O mar constituiu o primeiro tema, onde se debateram sobretudo aspectos ligados com a pesca, base da economia local. Salientou-se igualmente a necessidade de classificação do litoral como área protegida submarina, classificação necessária à própria salvaguarda da actividade piscatória. Não ficou esquecida a necessidade de enquadramento das actividades aquáticas (nomeadamente o mergulho).
Mas Sesimbra caracteriza-se por uma dualidade entre o mar e a serra. E foi a serra precisamente o tema da segunda parte do debate, que causou as maiores polémicas e onde se manifestaram os ânimos mais exaltados.
Um dos pontos quentes da discussão centrou-se nas declarações do director do Parque Natural da Serra da Arrábida (PNA) acerca do turismo nessa área protegida. Ricardo Paiva começou por salientar que o debate tratava o desenvolvimento sustentável no concelho de Sesimbra, não se circunscrevendo este somente ao caso das pedreiras. A reacção à passagem do documentário “Escrava de Pedra”, da jornalista Rita Saldanha, que abriu o debate sobre a serra.
Há muitas questões na Arrábida. Não são apenas as pedreiras, não é apenas a Gruta do Zambujal.” Segundo o director do PNA, a grande ameaça ou uma das grandes ameaças da Arrábida, em termos ambientais, consiste principalmente no “desordenamento turístico”. E “a circulação desenfreada de milhares de pessoas que procuram esta área especialmente apetecível” requer uma conveniente gestão.
Para Ricardo Paiva, a área do PNA apresenta “características óptimas para a prática dos novos turismos (ecoturismo, turismos radicais, turismos de natureza, etc.)”, mas por vezes esta colide com a conservação.
Com o intuito de minimizar os impactes das actividades out-door, o PNA encontra-se a elaborar o plano de ordenamento turístico da Arrábida. Em princípio, será do conhecimento público já no início do ano que vem, integrando a reclassificação do parque. “Será apresentada a discussão pública uma concepção de ordenamento turístico que vai passar pela limitação e interdição das actividades turísticas, nomeadamente as motorizadas e muitas das não motorizadas”, assegurou o director dessa área protegida.
As alusões à prática do cicloturismo não passaram desapercebidas ao anfitrião do debate, o NCS. “O cicloturismo passa a ser proibido no Parque Natural da Arrábida. Atenção, passa a ser proibido se for feito de uma forma desordenada. Ele passará a ser perfeitamente apoiado, passa a ser perfeitamente desejado, desde que devidamente enquadrado em regras que são definidas pela área protegida.
O director do parque referiu a incapacidade de “vigiar e controlar estas dezenas ou centenas de milhares de transeuntes que praticam todo o tipo de turismo”. Uns absolutamente inofensivos, outros extremamente agressivos para o ambiente. “Como não temos capacidade de controlar, com quatro guardas (que é o que nós temos na Arrábida), estes milhares de pessoas, a solução encontrada foi: vamos ter com as associações, vamos ter com as empresas, vamos definir as regras em que cada uma opera, quantas pessoas operam, onde operam, quando operam e vamos ordenar tudo isso.
No futuro plano de ordenamento turístico da Arrábida, as empresas e associações passam a ser responsáveis pela aplicação das regras fixadas pelo parque. Quando alguma não as cumprir, ser-lhes-á tirado, digamos assim, o “alvará” que terão de possuir para poderem desenvolver actividades nessa área classificada. O director do PNA reconheceu que a discussão pública não vai ser pacífica, mas salientou que “é uma forma perfeitamente legitima que o parque tem de preservar o espaço que está sob sua gestão”.
Carlos Sirgado, em representação do NECA, fez notar que não interessa proibir eventuais actividades úteis para o concelho. “Interessa sim condicioná-las a um nível e a um volume em que não se tornem muito gravosas”. Para este geógrafo, quando o engenheiro Ricardo Paiva referiu “que o usufruto e as intervenções turísticas na área do parque vão ser limitadas a acções concretas para que se saiba quem é que faz o quê, onde e quando”, só há que aplaudir. “Defendo que deve haver um controlo rigoroso do espaço, para que depois as coisas possam ser chamadas pelos seus nomes”, assegurou.
O representante dos espeleólogos mostrou-se igualmente céptico com a falta de guardas no PNA. É que, não havendo pessoal para efectuar o acompanhamento das actividades, poderá não haver autorização para a realização das mesmas. De facto, a crónica carência de meios, quer do PNA, quer do Instituto de Conservação da Natureza (ICN), poderá impossibilitar por completo a aplicação, no terreno, do ordenamento das actividades turísticas.
O geólogo Carlos Costa, da Universidade Nova de Lisboa, por seu turno, lembrou que muitas vezes os planos não têm aplicabilidade no terreno. Por outro lado, acentuou a importância destes serem amplamente participativos, de consulta pública abrangente. “Um processo que permita o envolvimento da população de forma desassombrada. Ou então corremos o risco destas situações continuarem relegadas para o amanhã.
Algumas das associações de actividades de ar livre é que, ao que tudo indica, não terão sido contactadas para contribuírem com os seus pontos de vista. A reacção de José Manuel Caetano, do NCS e presidente da Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta, não se fez esperar. Para este cicloturista, as palavras proferidas pelo director do parque foram ofensivas e despropositadas. O NCS é uma associação de defesa do ambiente que pauta as suas actividades no respeito pela conservação da natureza, pelo que as proibições, a avançarem, serão injustificadas. Francisco Rasteiro, do NECA, referiu que os espeleólogos não foram informados do ordenamento das actividades turísticas e desconhecem o conteúdo do mesmo.
Um plano de ordenamento das actividades turísticas que não passe por uma profunda discussão entre os cidadãos e instituições directamente envolvidas não terá certamente grande futuro. Serão mais um conjunto de normas inaplicáveis e desajustadas da realidade. Letra morta da lei ou plano aplicável? A ver vamos.

03/11/2008

Síndroma do Nariz Branco

© DR

Identificada uma causa da doença dos morcegos

Biologia. Um pequeno fungo está a dizimar a espécie, no Nordeste dos Estados Unidos.

Uma equipa de cientistas conseguiu identificar a causa (ou uma das causas) da doença conhecida por síndroma do nariz branco e que já matou mais de 100mil morcegos nos Estados Unidos, nos últimos dois anos. Segundo um estudo publicado na Science, trata-se de um fungo branco que aparece nos cadáveres dos animais mortos durante a hibernação.
Os investigadores dizem que este fungo se desenvolve melhor em condições muito frias, preferindo temperaturas típicas de um frigorífico.
Os cientistas ainda não conseguiram determinar se o fungo existia nas cavernas de hibernação dos morcegos ou se as contaminou, não havendo também certezas desta ser a única causa da morte. A confirmar-se uma contaminação, a causa poderá ser humana.
Os morcegos têm importante função ecológica, sobretudo no controlo de insectos, e a sua população conheceu um declínio de 75% no nordeste dos Estdos Unidos, em apenas dois anos.


[Diário de Notícias Ano 144º, nº 50982, 2 de Novembro de 2008, pg. 45]

À margem da lei

Lapa do Fumo
O património está a saque

[FORA DE PORTAS ● jornal Forum Ambiente nº 181, 15 de Maio de 1998]

O Núcleo de Espeleologia da Costa Azul descobriu que o património arqueológico existente na Lapa do Fumo está a ser devassado. A Câmara Municipal de Sesimbra e a Guarda Nacional Republicana já tomaram conta da ocorrência. Espera-se uma intervenção rápida para pôr fim ao sucedido.

Lapa do Fumo (Arrábida) © Francisco Rasteiro (1998)

O Núcleo de Espeleologia da Costa Azul (NECA) alertou a Câmara Municipal de Sesimbra (CMS), no final de Abril, para as estranhas escavações em curso na Lapa do Fumo. Os espeleólogos encontraram, a par de detritos actuais (roupa, velas, sacos, garrafas de plástico, etc.), materiais cerâmicos, líticos e ósseos, dispersos à superfície. Destacavam-se dois baldes de plástico cheios de fragmentos de cerâmicas, espólio amontoado e terras revolvidas.
A edilidade sesimbrense despoletou rapidamente o processo de averiguação da situação e protecção da cavidade. O arqueólogo da CMS, Luís Ferreira, deslocou-se à Lapa do Fumo, acompanhado da GNR, a fim de ser tomada conta da ocorrência. Paralelamente, os serviços técnicos da CMS estão a decidir qual a forma de fecharem a Lapa do Fumo, porque as soluções anteriores revelaram-se infrutíferas perante os actos de vandalismo. Segundo Luis Ferreira, a última autorização para efectuar trabalhos na Lapa do Fumo remonta a 1988. Quem cavou o solo da gruta procedeu à margem da lei.

Caçadores de tesouros
A Lapa do Fumo situa-se na vertente sul da Serra dos Pinheirinhos (concelho de Sesimbra). Corresponde a uma galeria fóssil, com cerca de 70 metros de comprimento, orientada segundo SE-NW. A largura e altura máximas são de 12 e 6 metros respectivamente. Possui abundantes estalactites e estalagmites, quase na sua totalidade destruídas. As colunas são das poucas formações que conseguiram resistir à destruição. Os grupos de colunatas, dispostos ao longo do eixo longitudinal da cavidade, dividem a galeria em dois corredores onde, apenas no final, é necessário rastejar. De resto, a progressão é fácil e acessível a qualquer individuo, mesmo sem equipamento especializado. A Forum Ambiente visitou o local, na companhia de Francisco Rasteiro (do NECA), e constatou a devassa do espólio arqueológico, a destruição quase total das concreções e o acesso livre a um arqueo-sítio de valor inquestionável. É que as duas portas gradeadas, os cadeados e as paredes da casa-mata não resistiram à fúria daqueles que, à força, quiseram visitar a Lapa do Fumo.
Como refere Marc Jasinski (no livro La Speleologie, 1978): “penetrar numa habitação do Paleolítico, sem permissão de visita, simplesmente para satisfazer alguma mania de coleccionista ou de antiquário, ainda que seja 30 mil anos depois da partida dos seu proprietários (…) continua sendo um delito”. Mais, destruir os fradeamentos e as paredes que impediam o acesso à Lapa do Fumo e/ou saquear o espólio ai existente será um delito grave, um crime agravado, mais não fosse porque a cavidade é um Imóvel de Interesse Público (Decreto-Lei nº 28/82, de 26 de Fevereiro).
Para Luís Ferreira, o “tráfico de material arqueológico, apesar de não estar fundamentada a sua existência, será uma das possíveis explicações para as escavações” em curso na Lapa do Fumo. Segundo esta fonte, os indivíduos envolvidos neste atentado ao património concelhio estariam documentados, pois a área cavada corresponde àquela onde foram descobertas moedas árabes. Os incógnitos, curiosos, coleccionadores ou antiquários serão autênticos “caçadores de tesouros”.

“Estilo Lapa do Fumo”
Hermanfrid Schunbart, Bosh-Gimpera, J. Pedro Garcia Roiz ou Juan de Mata Carriazo, entre outros, colocam em destaque a cerâmica da Lapa do Fumo quando abordam a fase do Bronze final ibérico. Trata-se da “cerâmica com ornatos brunidos”, que alguns denominam “estilo Lapa do Fumo”.
A “Cerâmica com ornatos brunidos” da Lapa do Fumo destaca-se por diverso motivos. Foi a primeira do género a ser divulgada no nosso país (aquando da sua descoberta, em 1956, somente eram conhecidos escassos fragmentos desse tipo cerâmico). É a mais variada e bela, de entre as restantes estações portuguesas e espanholas onde ocorre. Proporcionou ao seu descobridor, Eduardo da Cunha Serrão, a primeira cronologia coerente da “cerâmica com ornatos brunidos” (Idade do Ferro). E, actualmente, esta cerâmica sesimbrense é considerada como sendo do final da Idade do Bronze, transição para a Idade do Ferro.
H. N. Savoy, na obra Espanha e Portugal (1968), assinala e reproduz (figura 85, página 243) um exemplar da “cerâmica com ornatos brunidos” da Lapa do Fumo. O. da Veiga Ferreira e M. Leitão, em Portugal Pré-Histórico (1983), não referem este notável tipo de cerâmica, porque a sua obra exclui a Idade do Bronze. No entanto, reproduzem duas gravuras de vasos neolíticos da Lapa do Fumo (na página 152).
A Lapa do Fumo revelou níveis do Neolítico antigo evolucionado, do Neolítico recente, do Calcolítico, da Idade do Bronze, da Idade do Ferro e das épocas romana e árabe. O espólio arqueológico é muito variado: tumulações; objectos de carácter religioso (placas de xisto gravadas, ídolos-falange e “coelhinhos” de osso; raspadores e micrólitos geométricos de sílex; punhais, cabos cilíndricos, cabeças de alfinete, furadores, espátulas e adornos de osso; vasos, taças, tigelas, pratos e copos de cerâmica; contas bicónicas e polidas de azeviche, etc..
A presença dos romanos na Lapa do Fumo está representada por cerâmicas, nomeadamente pelos bicos de ânforas. A ocupação muçulmana também é testemunha pela presença de cerâmicas. Foram também descobertas provas numismáticas (quirates do século XII) que identificaram a existência, até então desconhecida, de oficinas monetárias muçulmanas em Silves e Beja.
Imóvel de Interesse Público, geomonumento que nos conta um pouco de história da Terra e arqueo-sítio que no revela muito da história do Homem, a Lapa do Fumo está a se pilhada. Urge defender esta gruta antes que seja tarde.

*****

Nota: Estamos em 2008, dez anos passados, e a Lapa do Fumo continua a receber visitas... A Sesimbra'acontece - Agenda de Acontecimentos do Concelho de Sesimbra (Ano 3, nº 32, Novembro 2008) divulga uma actividade a realizar-se no próximo dia 22 de Novembro, às 9.30 a.m.! Na boa...

30/10/2008

Cave Protection

Na sequência da notícia que publicámos no Spelaion sobre a Declaração WD66/2008, destacamos que no próximo dia 4 de Dezembro vai ser votada, no Parlamento Europeu, a proposta sobre a protecção das grutas como património cultural, natural e ambiental. A proposta apresentada por Mikel Irujo Amenaza, Rebecca Harms e Csaba Sándor Tabajdi, da European Cave Protection Comission, é sem dúvida um importantíssimo passo para a efectiva protecção do meio subterrâneo.

Mortero de Astrana (Cantábria) © Pedro Cuiça (2007)

29/10/2008

Jornadas de Desporto e Mulher

As I Jornadas Deporte y Mujer realizam-se, de 21 a 23 de Novembro, no Centro de Alto Rendimento de Granada (Andaluzia). A inscrição é livre, cobrando-se apenas o alojamento em regime de pensão completa: 49 € por pessoa/dia.
As inscrições devem ser enviadas para a Federação Espanhola de Espeleologia (FEE) através do e-mail fedespeleo@fedespeleo.com. O prazo de inscrição finaliza no dia 17 de Novembro.

[Fonte: blog do EC/DC]

28/10/2008

Na boa...

Espeleologia
Lapa da Furada

Esta gruta apresenta vestígios de ocupação humana que podem ser observados pelos seus visitantes. Apesar de ter uma progressão horizontal em corda, trata-se de uma gruta acessível para quem quer ter um primeiro contacto com a espeleologia.
Preço: 18 €
Duração: manhã
Grau de dificuldade: médio
Inscrição: até 10 de Outubro
Informações: (…)
Ponto de encontro: junto ao Campo de Futebol da Azoia
Org.: (…)


[sesimbr’acontece - Agenda de Acontecimentos do Concelho de Sesimbra, Ano 3, nº 31, Outubro 08, pg. 19]

Na boa! Será preciso apenas estar licenciado ou nem isso? A conservação da natureza em Portugal continua a revelar-se titubeante e cronicamente precária. Espeleo enquanto desporto-aventura, como qualquer outra actividade comercial, explorando o filão da descoberta das belezas e maravilhas do mundo subterrâneo! Pois bem, na boa! A nós não nos move motivações do tipo “provedor da espeleologia” ou qualquer tipo de brotoeja associada a inveja ou ameaça de pretensos posicionamentos… Portanto, não nos interessa qual a empresa envolvida nestas explorações comerciais: é-nos igual que seja a A, a B ou a C (por isso não termos identificado a dita). A questão é outra: a conservação do património espeleológico. Só isso! E já basta, não é?

P.S.: E já agora, para quem ande distraido ou ao engano, "na boa" é o contrário de "na má". O.K.?

24/10/2008

Budapest underground

Budapeste © Pedro Cuiça (2006)

Na próxima segunda-feira (dia 27 de Outubro), às 21 horas, e na terça-feira (28 de Outubro), às cinco e às 13 horas, o canal História vai passar o documentário “Cidades debaixo da terra: Budapeste, a cidade das grutas”.
Budapeste, a capital da Hungria, esconde um “mundo subterrâneo” de certo modo pouco conhecido e que encerra segredos bem guardados. As grutas e subterrâneos que se encontram por baixo da cidade acolheram diversos "habitantes", desde os homens pré-históricos até aos comunistas. Todos levaram o seu "habitat" para as profundezas desse mundo paralelo. “O apresentador Eric Geller teve acesso especial a esta cápsula do tempo hermeticamente selada, onde descobrirá um hospital da Segunda Guerra Mundial altamente secreto, encontrará a origem das águas quentes curativas, que utilizavam tanto os romanos como os turcos, para além de ver os diferentes níveis que foram construídos através dos séculos para sustentar o mundo de hoje, para que este não acabe por se desmoronar como aconteceu com o que se encontra enterrado sob a cidade.” Um documentário sobre o Budavári Labirintus a não perder…

Budavári Labirintus (Budapeste) © Pedro Cuiça (2006)

Budavári Labirintus (Budapeste) © Pedro Cuiça (2006)

Vulcano-espeleologia (VIII)

Amigos dos Açores
Dez anos de Espeleologia

[FORA DE PORTAS · jornal Forum Ambiente nº 179, 1 de Maio de 1998]

A espeleologia açoriana está de parabéns. Os Amigos dos Açores desenvolvem actividades nas grutas da região desde há uma década. Uma oportunidade para abordar o historial da descoberta e conservação do “mundo subterrâneo” micaelense.

© Francisco Rasteiro

A associação ecológica Amigos dos Açores, sedeada na ilha de S. Miguel, está a comemorar uma década de trabalhos espeleológicos. As actividades subterrâneas iniciaram-se no ano de 1998, tendo sido visitadas todas as cavidades micaelenses então conhecidas. Dez anos de explorações no interior da Terra, que permitiram um maior conhecimento do património espeleológico do arquipélago e o despoletar de medidas conservacionistas na Gruta do Carvão.

Uma história de grutas e algares
O interesse pelas cavidades da ilha de S. Miguel surgiu em 1998, mas o Grupo de Trabalho de Espeleologia dos Amigos dos Açores (GTEAA) só seria criado em 1991, o que não impediu o desenvolvimento de diversas acções espeleológicas por parte dessa associação ambientalista. Os Amigos dos Açores colaboraram, em 1989, com especialistas das universidades de Edimburgo (Escócia) e La Laguna (Canárias) em estudos de vulcano-espeleologia. No ano seguinte, em estreita colaboração com a associação espeleológica Os Montanheiros (da ilha Terceira) e a Universidade dos Açores, efectuaram trabalhos de campo no âmbito do projecto Biospel – S. Miguel. Em 1991, depois da fundação do GTEAA, foram estudadas diversas cavidades da ilha de S. Miguel, com especial destaque para a Gruta do Carvão (Ponta Delgada). No ano seguinte, foi elaborado um documento em vídeo sobre esta gruta, onde se salienta a sua importância turística, didáctica e científica, vídeo este que foi apresentado no I Encontro Internacional de Vulcano-espeleologia das ilhas Atlânticas, que decorreu em Angra do Heroísmo (na ilha Terceira). Como corolário das acções desenvolvidas, o GTEAA elaborou uma proposta de intervenção museológica na Gruta do Carvão, proposta que foi apresentada em Março de 1994, durante os trabalhos do 1º Encontro das Instituições Museológicas dos Açores, realizado no Museu Carlos Machado, em Ponta Delgada (S. Miguel). Em Janeiro de 1995, com o apoio da Junta de Freguesia de S. José, foram efectuados trabalhos de desobstrução e limpeza da gruta, o que permitiu a circulação em toda a extensão do troço jusante, o qual se desenvolve desde a Rua de Lisboa até à Avenida Antero Quental (num total de 600 metros). Simultaneamente, a associação reuniu com os secretários regionais do Turismo e Ambiente e da Educação e Cultura, com o propósito de apresentar a proposta de musealização da Gruta do Carvão. O GTEAA foi igualmente recebido pelo presidente do Governo Regional dos Açores, a 27 de Abril, e pelo presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada, no mesmo mês.

Educação, ambiente e património espeleológico
Em Fevereiro de 1995, foi entregue à Secretaria Regional da Juventude, Emprego, Comércio, Indústria e Energia (SRJECIE) uma memória descritiva e uma estimativa de custos para a proposta de intervenção museológica e dinamização e manutenção. Em Maio, a SRJECIE atribuiu um subsídio destinado à elaboração da primeira fase da referida proposta. Esse apoio permitiu iniciar acções de limpeza, electrificação, estabilização e construção de acessos no troço jusante (Rua de Lisboa) da Gruta do Carvão, troço no qual o GTEAA pretende implementar o projecto de musealização e onde o acesso ao público (nomeadamente escolas) se fará de forma organizada.
No dia 21 de Agosto de 1996 efectuou-se o primeiro reconhecimento do troço montante da Gruta do Carvão, troço que se desenvolve para norte da 2ª Circular de Ponta Delgada. Tal como preconizado no projecto de musealização dos Amigos dos Açores, este troço da gruta, dadas as suas características, será de acesso condicionado. Depois dos trabalhos de campo no referido troço (Rua do Paim), decorreu (em Outubro de 1996) uma nova reunião entre os Amigos dos Açores e a Junta de Freguesia de S. José, onde foi apresentado um esboço do troço em questão e foram discutidas as acções concretas a desenvolver naquela zona da cavidade.
Em Agosto de 1997 realizou-se um encontro com o presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada, onde foi entregue o livro “Património Espeleológico da Ilha de São Miguel”, bem como o levantamento topográfico de pormenor da Gruta do Carvão e sua localização na malha urbana. A reunião teve como objectivo a inclusão da Gruta do Carvão no Plano Director Municipal (PDM) e no Plano Geral de Urbanização (PGU).
Em Outubro do mesmo ano foi formalmente apresentada à Secretaria Regional da Agricultura, Pescas e Ambiente, a proposta de classificação da Gruta do Carvão, como Monumento Natural Regional, que foi dada a conhecer a diversas entidades, nomeadamente ao presidente da Assembleia Legislativa Regional (ALR), ao presidente do Governo Regional, aos grupos parlamentares da ALR, à Câmara Municipal de Ponta Delgada e ao secretário regional da Educação e Assuntos Sociais.
Com o intuito de conhecer melhor a riqueza biológica do troço da Gruta do Carvão, que se desenvolve para norte da 2ª circular, foi programada uma campanha bioespeleológica para o primeiro semestre de 1998. Estes estudos permitirão fazer um levantamento das espécies cavernícolas existentes, bem como a seriação de medidas a implementar, tendo em vista a sua conservação, atendendo a que aquela zona esteve, até às obras da 2ª circular, Freguesia de S. José, com o apoio dos Amigos dos Açores, será dada continuidade aos trabalhos de remoção das terras acumuladas, junto à entrada existente nos secadores da Fábrica de Tabaco Micaelense. Na sequência de informações recentes, será efectuada uma exploração à gruta localizada na freguesia de Arrifes, que poderá corresponder ao troço mais setentrional da Gruta do Carvão (referenciado em documentos históricos).
Para além da classificação e recuperação da Gruta do Carvão, os Amigos dos Açores, durante o ano de 98, vão dar seguimento ao projecto que visa a urgente integração da cavidade no roteiro turístico dos Açores.

*****

Os Amigos dos Açores estão duplamente de parabéns, não só por cumprirem este ano duas décadas de actividade, mas também pela constância e empenho que levaram à classificação e abertura ao público da Gruta do Carvão. Que contém muitos mais anos em prol da espeleologia açoriana e nacional.


© Amigos dos açores

23/10/2008

Vulcano-espeleologia (VII)

Gruta do Carvão
Classificação adiada

[FORA DE PORTAS ● jornal Forum Ambiente nº 210, 4 de Dezembro de 1998]

Os Amigos dos Açores pretendem que a Gruta do Carvão seja classificada como Monumento Natural Regional. Mas a classificação tarda, inviabilizando a sua conveniente conservação. Os espeleólogos micaelenses, no entanto, prometem não baixar os braços.

© Amigos dos Açores

A Gruta do Carvão, situada no Complexo Vulcânico dos Picos (na zona poente de Ponta Delgada), é o maior túnel lávico da ilha de S. Miguel (Açores). Actualmente, conhecem-se dois troços distintos, com uma extensão total de cerca de um quilómetro, uma altura máxima de cinco a seis metros e uma largura que ultrapassa os 12 metros. Do tecto pendem numerosas estalactites de lava e as paredes apresentam-se estriadas e ladeadas por longos balcões, surgindo galerias ramificadas e canais sobrepostos.
Não admira que o Grupo de Trabalho de Espeleologia dos Amigos dos Açores (criado em 1991) se tenha envolvido, desde logo, no estudo e apresentação de propostas de conservação dessa gruta (ver jornal Forum Ambiente nº 153, de 31 de Outubro de 1997). O grande interesse suscitado por essa cavidade mereceu inclusivamente a edição de opúsculo intitulado “Proposta de Intervenção Museológica na Gruta do Carvão, Ilha de S. Miguel”, um trabalho de J. P. Constância, J. C. Nunes e T. Braga, editado pelos Amigos dos Açores (1997). No entanto, a tão esperada classificação tarda em ocorrer.

Musealizar para conservar
Os Amigos dos Açores consideram que “a musealização de sítios pode constituir um poderoso instrumento de intervenção sobre o património natural”. Mas não esquecem que o processo de musealização deve conciliar-se com a conservação da natureza. A associação defende assim que a abertura da Gruta do Carvão ao público deve basear-se num programa museológico, mas sem qualquer intervenção museográfica no seu intrior. Para a prossecução destes objectivos, será essencial a classificação da cavidade.
A classificação da Gruta do Carvão afigura-se de primordial importância, pois a conservação da mesma depende do estatuto jurídico que lhe for imputado. Nesse sentido, foi proposta a classificação como Monumento Natural Regional ao abrigo do Decreto Legislativo Regional nº 21/93/A (que aplica, nos Açores, o regime jurídico estabelecido na Rede Nacional de Áreas Protegidas). Os espeleólogos micaelenses julgam igualmente fundamental a criação de um espaço exterior para exposições - um centro de interpretação vulcanológico onde se inicie a visita e que esteja vocacionado para a realização de acções de dinamização pedagógica, ocupação dos tempos livres ou outras.
As potencialidades da Gruta do Carvão podem ser repartidas em aspectos científicos, didácticos e turísticos, sendo reconhecida a sua importância na interpretação de fenómenos vulcânicos. Um excelente cenário para a dinamização de visitas de estudo e de acções de educação ambiental.
Os Amigos dos Açores destacam que “deverá ser dada especial atenção às escolas, articulando as visitas com os programas ecolares”. Apesar de se desejar que as actividades venham a tornar-se instrumentos didácticos ao serviço das escolas, espera-se igualmente a aderência da comunidade em geral.

Classificação aguarda-se
Em Outubro de 1997, os Amigos dos Açores apresentaram à Secretaria Regional da Agricultura, Pescas e Ambiente, a “Proposta de Classificação da Gruta do Carvão como Monumento Natural Regional”, proposta que foi transmitida, nomeadamente, ao Presidente da Assembleia Legislativa Regional, ao Presidente do Governo Regional, à Secretaria Regional da Educação e Assuntos Sociais e à Câmara Municipal de Ponta Delgada.
Os Amigos dos Açores, em Fevereiro de 1998, realizaram uma visita de trabalho ao troço da Rua de Lisboa, com a Directora Regional do Ambiente, o Director Regional do Turismo e um responsável da junta de Feguesia de S. José. Essa incursão no “mundo da escuridão” serviu para verificar in loco as razões que levaram a encetar esforços no sentido da recuperação edinamização museológica da Gruta do Carvão, bem como para solicitar a sua classificação.
O Conselho de Governo, reunido na Madalena (ilha do Pico), a 5 de Junho de 1998, viria a aprovar a resolução nº 149/98, no âmbito da qual foi manifestada a intenção de proceder à classificação de algumas grutas vulcânicas dos Açores. Para efeito, foi criado um grupo de trabalho composto por diversas entidades públicas, associações espeleológicas e/ou de defesa do ambiente dos Açores. No entanto, passados vários meses, não houve qualquer indício do dito grupo de trabalho ter sido formalmente constituído ou de estar a trabalhar nos objectivos para os quais foi criado, situação que os Amigos dos Açores estranharam, nomeadamente por não terem sido contactados para integrarem o grupo. Sendo a única associação que, em S. Miguel. Tem trabalhado de modo contínuo e com provas dadas no estudo e divulgação das cavernas vulcânicas, existentes na ilha, não seria para menos.
O aparente desinteresse face à urgente classificação da Gruta do Carvão é tanto mais grave quando está prevista a urbanização da zona adjacente à cavidade. E a conveniente conservação da gruta só será viável mediante um mecanismo legal que proteja esse georrecurso cultural. Até lá, restam as boas intenções por parte de diversas entidades, nomeadamente da Câmara Municipal de Ponta Delgada.
Independentemente da evolução do processo, os Amigos dos Açores prometem que “não deixarão de pugnar pela classificação jurídica da Gruta do Carvão e continuarão a realizar trabalho que permita conhecer ainda melhor esta cavidade subterrânea da ilha de S. Miguel”.


Geomonumento a reconhecer
A Gruta do Carvão é a cavidade mais conhecida da ilha de S. Miguel. No século XVI foi descrita por Gaspar Frutuoso na sua obra “Saudades da Terra”. John White Webster (1821) referiu a existência de uma gruta na área dos Arrifes, correspondente ao prolongamento para montante (actualmente inacessível) da Gruta do Carvão. George Hartung (1860) descreveu o interior da gruta e Ernesto do Canto (1881) designou-a “a Gruta da Rua Formosa”. Walter Frederic Walker (1886) referiu o prolongamento da gruta para norte de Ponta Delgada e descreveu algumas estruturas existentes no interior da mesma (“vêm-se agulhas de lava”). Emygdio da Silva (1893) indicou a Gruta do Carvão como sendo “o mais notável dos túneis vulcânicos dos Açores”. Notabilidade que aguarada ainda o devido reconhecimento.
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22/10/2008

Gralhas em alta

teste
Cafés, casas, centros e calorias

Quiz. Se a gralha-de-bico-vermelho está em vias de extinção, os centros comerciais continuam em expansão; e se uma casa cara pode ser barata, o que não cessa de aumentar são os problemas de obesidade em Portugal.

1. A gralha-de-bico-vermelho está à beira da extinção. Quantas se estima existirem em Portugal?
a) Menos de mil
b) Menos de 600
c) Menos de 500
d) Menos de cem
(…)”

[Abel Coelho de Morais · Diário de Notícias, Ano 144º, nº 50 968, 19 de Outubro de 2008, pg. 63]


(Moncorvo @ J. C. Farinha, 1986)

Conhecer para preservar?
“Cafés, casas, centros e calorias!” Uma aparentemente estranha mistura de temas que, no entanto, talvez estejam mais interligados do que à primeira vista se possa pensar… Só falta juntar a este leque temático as alterações climáticas!?
A Gralha-de-bico-vermelho (Pyrrhocorax pyrrhocorax erythrorhamphus Veillot) encontra-se, sem dúvida, em vias de extinção. Mas parece encontrar-se em alta na comunicação social… Talvez o mediatismo a que a espécie está agora sujeita possa servir como alerta e sensibilização para a sua problemática situação de extinção. Situação que, contudo, não é de agora… Há mais de duas décadas que a diminuição do número de efectivos tem sido motivo de preocupação por parte dos investigadores que têm estudado a espécie. Destaca-se, nesse particular, o trabalho efectuado pelo biólogo João Carlos Farinha, do então Instituto para a Conservação da Natureza (ICN) e agora também da Biodiversidade (ICNB).
No que concerne à conservação desta espécie salientam-se o trabalho em curso por parte do Projecto Bico-vermelho e, em fase inicial de desenvolvimento, o projecto da Quercus.
Já agora, a solução apresentada para a pergunta “1” é a “c”: menos de 500.

Vulcano-espeleologia (VI)

Vulcanoespeleologia
Grutas, Algares e Vulcões


[FORA DE PORTAS · jornal Forum Ambiente nº 206, 6 de Novembro de 1998]

Os Amigos dos Açores desenvolvem trabalhos de espeleologia desde há uma década. Para assinalar as comemorações, a associação anuncia a publicação de um livro que dá a conhecer as grutas e algares de S. Miguel e a espectacularidade da paisagem vulcânica.
@ DR

A associação ecológica “Amigos dos Açores”, sedeada em S. Miguel, está a comemorar uma década de trabalhos espeleológicos (ver jornal Forum Ambiente nº 179, de 1 de Maio de 1998). O interesse pelas cavidades da ilha é antigo, mas o Grupo de Trabalho de Espeleologia dos Amigos dos Açores (GTEAA) só foi criado em 1991; o que não impediu a realização de diversas cavidades. No primeiro ano (1988) foram visitadas todas as cavidades micaelenses então conhecidas. Em 1990, em colaboração com a associação espeleológica “Os Montanheiros” (ilha Terceira) e a Universidade dos Açores, efectuaram-se trabalhos de campo no âmbito do projecto “Biospel - S. Miguel”.
Dez anos de explorações no interior da Terra permitiram um maior conhecimento do património espeleológico, não só da ilha de S. Miguel, como do arquipélago, e o despoletar de medidas conservacionistas na Gruta do Carvão (ver Forum Ambiente nº 153, de 31 de Outubro de 1997).
O inventário das grutas e algares da denominada “ilha verde” tem constituído um trabalho primordial para a conservação do património subterrâneo ai existente. A obra “Património Espeleológico da ilha de S. Miguel - Grutas, Algares e Vulcões, recentemente editada pelos Amigos dos Açores (1998), dá a conhecer um pouco desse “mundo de escuridão e beleza”. Um trabalho de João Paulo Constância, João Carlos Nunes e Teófilo Braga, que proporcionou uma viagem a algumas das mais importantes cavidades micaelenses. Nas palavras de Victor Hugo Forjaz, que assina o prefácio: “Uma sínteses iniciática das principais riquezas espeleológicas de São Miguel e um alerta para os responsáveis pela conservação da natureza”.

Vulcanismo subterrâneo
As grutas estão geralmente associadas às áreas cársicas (Maciço Calcário Estremenho, Arrábida, Barrocal algarvio,…). Mas existem excepções à regra, como as Grutas de Sto. Adrião (Trás-os-Montes) ou a Cova da Adiça (Alentejo). Se em Portugal continental é assim, no arquipélago dos Açores, então, a excepção é a regra. Existem numerosas cavidades, mas são de origem vulcânica.
Para o vulcanólogo Victor Hugo Forjaz, “os vulcões quando activos, além do exibicionismo exterior, têm uma actividade interna e intima que apenas os vulcanoespeleólogos podem revelar”. Os algares e túneis de lava são a expressão dessa actividade vulcânica e constituem um mundo à espera de ser estudado.
O passado geológico de S. Miguel revela uma longa história de erupções vulcânicas, na sua maioria explosivas. Erupções que, grosso modo, fizeram com que a ilha fosse crescendo para ocidente. Como testemunhos externos do interior da Terra, destacam-se, entre outros, os aparelhos vulcânicos de Furnas, Sete Cidades e Fogo. No entanto, só descendo ao “centro” da Terra se poderá vislumbrar a outra face do vulcanismo. Actualmente conhecem-se perto de 20 cavidades naturais (e 6 artificiais), na ilha de S. Miguel, das quais mais de 60% localizam-se no Complexo Vulcânico dos Picos.
A maior parte dos algares vulcânicos correspondem a antigas chaminés ou condutas, mais ou menos verticais, que se esvaziaram dando origem a cavidades. O livro de J. P. Constância, J. C. Nunes e T. Braga dá a conhecer o Algar do Pico Queimado (o mais profundo de S. Miguel, com cerca de 30 metros), o Algar da Batalha e o Algar da Ribeirinha.
Os túneis vulcânicos ou lávicos (também designados por “grutas” ou “cavernas”) formam-se geralmente em escoadas de lavas basálticas. Quando são de pequenas dimensões e secção mais ou menos circular também se chamam “tubos lávicos”. À medida que as escoadas de lava progridem dá-se o arrefecimento das zonas superficiais (em contacto com a atmosfera). Desse modo forma-se uma crosta envolvente, debaixo da qual continua a escorrer lava ainda quente e liquefeita. Quando o nível da lava sofre um abaixamento gera-se um vazio, formando-se uma cavidade de alguns metros ou até quilómetros de desenvolvimento.
O tecto das grutas é frequentemente afectado por desabamentos rochosos, que podem originar a formação de “clarabóias”, e não é raro formarem-se pingos de lava (estalactites lávicas). Estas formam-se quando a lava ainda está liquefeita e, por vezes, esses pingos caem indo gerar estalagmites ou estafilitos. Os rebordos salientes deixados nas paredes dos túneis pelos rios de lava que correram no seu interior, designados por “bancadas” ou “balcões”, também caracterizam esse meio subterrâneo.
O maior túnel de lava de S. Miguel é a Gruta do Carvão (980 m) de que se conhecem dois troços que perfazem cerca de 2 quilómetros de desenvolvimento. J. P. Constância, J. C. Nunes e T. Braga também dão a conhecer a Gruta de Água de Pau (323 m), Gruta do Pico da Cruz (260 m), Gruta do Enforcado (235 m), Gruta do Caldeirão (235 m), Gruta do Esqueleto (188 m), Gruta das Escadinhas (135 m), Gruta da Quinta Irene (mais de 62 m), Gruta da Giesta (45 m) e Gruta das Feteiras (22 m).

21/10/2008

Pedestrianismo natural... para um futuro sustentável


Pedro Alves e Rita Lemos, do Grupo Temático dos Quirópteros da Comissão Científica da Federação Portuguesa de Espeleologia (FPE), estiveram presentes nas I Jornadas Internacionais de Pedestrianismo que se realizaram, de 16 a 19 de Outubro, na Estação Agronómica Nacional, em Oeiras. As jornadas, subordinadas ao tema “Pedestrianismo e Percursos Pedestres como instrumentos de interpretação e conservação da Natureza”, contaram com a colaboração do Grupo Temático dos Quirópteros no painel 1 sobre Interpretação da Natureza. A palestra, intitulada “Morcegos: ver e ouvir”, abordou as principais características dos quirópteros, a importância desses animais e a sua vulnerabilidade, tal como os percursos pedestres nocturnos e a “observação” de morcegos. Por último, foi apresentado um pequeno documentário sobre a recuperação de um morcego - chamado “Houdini” - que foi tratado e recuperou de um ferimento numa asa.
É igualmente de destacar a palestra de Ana Isabel Alves, monitora da Escola Nacional de Montanhismo (ENM), sobre percursos de interpretação, na qual foi explorada a especificidade do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros (PNSAC) no tocante a percursos subterrâneos, nomeadamente os exemplos do Algar do Pena e da Gruta do Almonda.




Vulcano-espeleologia (V)

Grutas da Terceira
Visitar para preservar

[FORA DE PORTAS ● Jornal Forum Ambiente nº 203, 16 de Outubro de 1998]

Furna da Água (Terceira, Açores) @ Anabela Trindade (1995)

A Gruta do Natal vai abrir ao público no próximo dia 1 de Dezembro e a abertura da Furna da Água está prevista para o próximo Verão. Trata-se de uma forma de divulgar as riquezas espeleológicas da ilha Terceira (Açores), sensibilizando para a conservação do mundo subterrâneo.

Os Montanheiros - Sociedade de Exploração Espeleológica, fundada em 1 de Dezembro de 1963 na ilha Terceira, é a mais antiga associação espeleológica dos Açores. Não admira, pois, que seja essa a ilha onde se encontra a gruta mais visitada do arquipélago: o Algar do Carvão. Esse famoso algar, profundamente associado à história da sociedade Os Montanheiros, contará em breve com cavidades congéneres.
No próximo dia 1 de Dezembro decorrerá a inauguração e a abertura ao público da Gruta do Natal, mais um projecto a cargo dessa associação espeleológica açoriana. Prevê-se, igualmente, que a Furna da Água, numa iniciativa da Delegação do Turismo da Terceira, venha a ser aberta ao público já a partir do próximo Verão. A Junta de Freguesia de Porto Judeu pretende também utilizar a Gruta das Agulhas para fins turísticos, mas a sua abertura revela-se problemática.

Conhecer para preservar
Para Paulo Borges, do grupo Os Montanheiros, as cavidades vulcânicas constituem um património natural de inegável valor. Além do grande interesse geológico e vulcano-espeleológico, essas cavidades apresentam nomeadamente um grande valor hidrológico (Furna da Água) e biológica (Gruta das Agulhas). No entanto, o estado de conservação de algumas grutas e algares constitui um motivo de preocupação, que urge resolver.
A pressão turística, nos Açores, é crescente, constituindo uma alternativa às dominantes actividades agrícolas. As grutas e algares surgem como uma possibilidade de desenvolver o turismo regional e potenciar a própria conservação do meio subterrâneo. No entanto, há que ter em atenção que os túneis de lava e algares são dos poucos habitats bem conservados nos Açores, sendo necessário acautelar a sua preservação. Qualquer projecto de exploração turística terá de ser sujeito a estudo prévio de impacte ambiental e estar vocacionado para as componentes científica e de educação ambiental.
Os valores científicos e patrimoniais que as grutas e algares encerram podem e devem ser utilizados para acções de interpretação do meio subterrâneo e sensibilização para a sua conservação. O aproveitamento turístico de certas cavidades (de que o Algar do Carvão é o exemplo mais conhecido) revela-se de grande interesse, com benefícios evidentes no desenvolvimento da economia local. Os espeleólogos verificaram inclusivamente que, por vezes, é possível compatibilizar as actividades de índole turística com a conservação.
Muitos dos túneis de lava existentes na Terceira (e também em outras ilhas) são visitados por turistas e população em geral. Segundo os espeleólogos, essas visitas serão positivas, pois as grutas merecem ser visitadas, não fossem os impactes ambientais que se verificam. Encontram-se grandes quantidades de lixo nas cavidades mais frequentadas. Os Montanheiros, no início da década de 90, limparam as grutas do Natal e das Agulhas e, desde então, têm zelado pela conservação dessas cavidades. Mas os atentados ao património espeleológico continuam a verificar-se noutros locais.
A conservação das grutas e algares torna-se cada vez mais premente. Os espeleólogos defendem a classificação e preservação de todas as cavidades. Mas, na impossibilidade de tal acontecer (em breve), afirmam que é urgente a determinação das cavernas em que é prioritário actuar nesse sentido. A inventariação das cavernas do arquipélago, efectuada pelos espeleólogos açorianos, revela-se o instrumento de trabalho essencial para a defesa do património subterrâneo da região. A Gruta do Natal é um túnel de lava, com cerca de 350 metros de desenvolvimento (situado na Lagoa do Negro), cuja conservação e divulgação estão asseguradas pela associação Os Montanheiros. Mas, essa cavidade, também designada por “Galerias Negras”, não será o único exemplo. No próximo Verão, a Furna da Água será aberta ao público mantendo a cavidade tal como se encontra. Os visitantes dispõem de equipamento individual (capacete e iluminação) para efectuarem a descida ao “reino da escuridão”. O interesse turístico da Gruta das Agulhas remonta ao início da década de 90 e também se prevê a sua abertura ao público. No entanto, a Junta de Freguesia de Porto Judeu e o Agrupamento 130 do Corpo Nacional de Escutas, por razões de segurança, decidiram aguardar as conclusões de estudos especializados. Até que as grutas e algares dos Açores estejam protegidos por Lei, resta às diversas associações locais e regionais a sua salvaguarda, para que não se repitam os erros do passado.

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Atenção espeleólogos


[FORA DE PORTAS ● Jornal Forum Ambiente nº 203, 16 de Outubro de 1998]

O V Encontro Nacional de Espeleologia, organizado pela Associação dos Espeleólogos de Sintra (com o apoio da Câmara Municipal de Sintra e da Vertical - Sociedade de Importação e Comércio de Artigos para as Actividades de Ar Livre), irá efectuar-se no dia 24 de Outubro. No entanto, o local onde este encontro irá decorrer não será, como previsto, no Palácio de Valenças, em Sintra, mas na Casa da Juventude, na Tapada das Mercês. O encontro, subordinado ao tema “Ensino da Espeleologia”, inicia-se às 9 horas da manhã. Não falte.

20/10/2008

A Lorga de Dine

Os tesouros perdidos de Dine

"A grandiosidade da gruta faz antever o seu valor histórico e patrimonial. Os desenhos nas rochas, fruto da dissolução das águas subterrâneas ao longo de milhares de anos, fazem da Lorga de Dine, no concelho de Vinhais, um local muito cobiçado por “caçadores de tesouros”. Após a sua descoberta, em 1964, o diplomata dinamarquês Carl Harpsöe encetou a primeira campanha de escavações, durante a qual foi identificado um espólio com cerca de 5 500 espécimes. Nos anos que se seguiram, contudo, o espaço arqueológico foi vandalizado e destruído, sobretudo nos anos 80, por pessoas ligadas à Arqueologia e Geologia ou simples “curiosos”. “Na década de 80, e de 2005 até há bem pouco tempo, vinham pessoas à procura de objectos que destruíam este património”, explicou Maria Judite Lopes, responsável por mostrar a Lorga de Dine e o Núcleo Interpretativo de Dine. Segundo esta habitante, além de pedras e estalactites cortadas e arrancadas, foi perdido o rasto a um grande número de achados arqueológicos. “Durante muito tempo, foram feitas escavações clandestinas, durante as quais foram levadas peças que poderão ter desaparecido para sempre”, lamenta a responsável. Objectos de valor histórico e arqueológico incalculável foram roubados por “caçadores de tesouros”, que também contribuíram para a destruição da própria lorga, dada a violência com que foram efectuadas algumas escavações. “As intervenções eram muito profundas e arruinaram algumas peças naturais únicas e lindíssimas”, acrescentou Maria Judite Lopes. Foi em resultado de uma dessas acções, que foi descoberta uma terceira grande sala na gruta, que integra, também, um desconhecido número de galerias. A “guia” chegou a alertar entidades e as autoridades de segurança, mas “nunca ninguém ligava”, lamenta. Recorde-se que a Lorga de Dine é uma cavidade natural de origem cársica e tem uma beleza inigualável devido às estalactites, estalagmites, colunatas calcárias e “desenhos”, bem como relevos naturais impressos nas paredes da gruta. Localizado a sul de Dine, na encosta do outeiro “Castro”, este espaço foi ocupado no final do Neolíticos e início da Idade do Ferro. Ou seja, entre o 4º e o 1º Milénio Antes de Cristo (A.C.). Assim, a Lorga de Dine funcionou como habitação, armazém de cereais e, também como cemitério, dada a quantidade de ossos humanos e de animais ali encontrados. (…)"
[Sandra Canteiro ● Nordeste - Semanário Regional de Informação (edição de 14/10/2008)]

Preservar a gralha

(PNSAC @ J. C. Farinha, 1988)

Está em fase inicial de desenvolvimento um projecto para a preservação da Gralha-de-bico-vermelho(Pyrrhocorax pyrrhocorax) , espécie em extinção em Portugal. Sendo uma ave insectívora muito dependente de ecossistemas agropastoris extensivos criados pelo homem, o que se pretende é implementar medidas de conservação que garantam a continuidade da espécie, através da melhoria dos seus habitats, da alimentação e da protecção dos locais de nidificação.
A comunidade local estará envolvida. Promovida pela associação ambiental Quercus e com o apoio financeiro da Vodafone, a iniciativa vai durar cinco anos e envolve um investimento de 150 mil euros. A preservação da biodiversidade, a recuperação de actividades agrícolas e de pastoreio economicamente sustentáveis numa área do Parque Natural da Serra de Aire e Candeeiros (PNSAC).

[Notícias Magazine nº 856, 19/Out. 08]

15/10/2008

Vulcano-espeleologia (IV)

Algar do Carvão
Um algar classificado

[FORA DE PORTAS ● jornal Forum Ambiente nº 164, 16 de Janeiro de 1998]

© Os Montanheiros

A espeleologia açoriana não se pode dissociar do Algar do Carvão. A história de Os Montanheiros desenvolveu-se a par das iniciativas empreendidas nessa cavidade. A única gruta classificada no Arquipélago dos Açores, que aguarda a protecção das suas congéneres.

A vulcano-espeleologia surgiu, no arquipélago dos Açores, em finais do século passado e encontra-se profundamente ligada ao Algar do Carvão. Situado na ilha Terceira, este algar começou a ser explorado a 26 de Janeiro de 1893. A prospecção foi empreendida, entre outros, por Cândido Corvelo e José Luís Sequeira. Em 1934, Didier Couto efectuou a segunda descida e elaborou o primeiro esboço (perfil) da cavidade. A primeira topografia do Algar do Carvão é da autoria de Montserrat e Romero (1983). O algar foi descido pela Sociedade de Exploração Espeleológica Os Montanheiros em Agosto de 1963 (ano da sua fundação). Américo de Lemos Silveira, fundador de Os Montanheiros, dirigiu as operações, que envolveram numerosos participantes.
As obras de abertura de um túnel de acesso à gruta processaram-se de 28 de Maio de 1965 a 28 de Novembro de 1966. A entrada e a primeira escadaria no interior da cavidade foram edificadas em 1968. Nesse mesmo ano, a 1 de Dezembro, verificou-se a abertura ao público. Na década de 70 foi instalada luz eléctrica (1970), construída a actual escadaria (1977) e a casa-abrigo (1978). Os anos 80 viram o reconhecimento do valor da cavidade, com a sua classificação (1987) e a inauguração da nova instalação eléctrica (1988).
O Algar do Carvão foi classificado como Reserva Natural Geológica pelo Decreto Legislativo Regional nº 13/87/A. Dentro da área da reserva, definida pela linha que dista 100 metros da base dos cones que suportam o algar, são proibidas, sob pena de multa, quaisquer alterações no terreno, fauna ou vegetação.

Um geomonumento
O Algar do Carvão situa-se no interior da Ilha Terceira, perto do pico do mesmo nome (639 m), na Caldeira de Guilherme Moniz, a cerca de 1300 metros do Tentadero de Sto. Antão e a 14 quilómetros de Angra do Heroísmo. A melhor forma de chegar a essa “jóia da espeleologia açoriana” é através do ramal da ER5-2ª. Existe uma placa na estrada indicando a localização da cavidade.
O Algar do Carvão está associado ao Complexo Vulcânico do Pico alto, correspondendo a uma chaminé vulcânica e desenvolvendo-se sob dois cones de escórias (bagacina). Estes cones de piróclastos assentam sobre rochas compactas, de natureza andesítica a traquítica, ricas em sílica. O algar é constituído por um troço subvertical de 45 metros de altura e dá acesso a três salas de dimensões consideráveis. Na zona mais interior, a cerca de 90 metros de profundidade, encontra-se um pequeno lago, alimentado pelas águas de infiltração.
Segundo Os Montanheiros, as águas de precipitação que se infiltram facilmente através das escórias não consolidadas do cone vulcânico, ao penetrarem nas rochas compactas e muito fissuradas, de composição andesítica a traquítica, adquirem uma progressão mais lenta favorecendo a dissolução de sílica. Deste modo, depositaram-se, ao longo das fracturas, diversas estalactites de sílica. De facto, o tecto e as paredes da abóbada central estão decoradas por inúmeras estalactites, algumas de grandes dimensões, e no chão desenvolvem-se estalagmites maciças e dispersas que não apresentam grande altura. As paredes da sala mais interior estão recobertas de estalactites de lava e obsidiana (ou vidro vulcânico). Esta rocha que se caracteriza por arrefecimento rápido da lava é extremamente rara no interior das grutas.
Devido à entrada de luz natural, as paredes da chaminé, encontram-se revestidas por povoamentos vegetais, surgindo desde espécies arbóreo-arbustivas, a fetos, musgos, líquenes e algas, nas zonas mais profundas.
Rosalina Gabriel, do Departamento da Ciências Agrárias da Universidade dos Açores, efectuou da distribuição das comunidades vegetais do Algar do Carvão. O facto de não haver zona afótica nesta cavidade faz com que em toda a sua área surja flora mais ou menos desenvolvida. No primeiro troço da chaminé, as comunidades correspondem a uma extensão da vegetação potencial, a floresta húmida macaronésica. Ai dominam as espécies arborescentes como o Azevinho (Ilex perado), a Urze (Erica azorica) e o Loureiro (Laurus azorica). Segue-se outra zona onde os povoamentos se assemelham aos estratos herbáceos da floresta húmida açoriana. Nessa zona destacam-se as pteridófitas e, abaixo, ocorrem extensos povoados de briófitas. Na base do algar predominam as algas verdes. Saliente-se que o algar apresenta também fauna cavernícola.
O Algar do Carvão encontra-se aberto ao público. Para o visitar basta contactar Os Montanheiros. Uma forma de descobrir as belezas encerradas nas grutas vulcânicas e aperceber-se da importância da sua conservação.

14/10/2008

Atenção à hibernação


O presidente da Comissão Científica da Federação Portuguesa de Espeleologia, Gabriel Mendes, solicitou em comunicado veiculado através do Espeleo.pt que os espeleólogos não visitem diversas grutas devido à época de hibernação dos morcegos (Novembro a Março, com maior incidência entre Dezembro e Fevereiro):
● Serra de Sicó – Algar da Lagoa e Santa Maria da Estrela
● Portunhos-Cantanhede - Gruta d'el Rei
● S. Mamede – Algar da Malhada de Dentro e Almonda (apenas na gruta da Oliveira e Sala Torre Eiffel)
● Santo António – Algar de Picos, Lajoeira, Ladoeiro, Laçarote e Lapa da Ovelha
● Arrábida/Espichel – Fojo dos Morcegos, Zambujal e Grande Falha
● Montejunto – Gralhas
● Marvão – Cova da Moura
● Algarve - Amarela (Costa Vicentina), Ibne Ammar (Portimão) e Caverna do Poço dos Mouros (Rocha da Pena)
Segundo Gabriel Mendes: “Apesar de Novembro e Março serem alturas "tampão" podendo ainda não haver hibernação, não deixa de ser uma altura crítica por escassez de alimento (Novembro e pré-criação em Março) pelo que deverá ser evitado ao máximo actividades neste período em especial se as equipas tiverem muita gente.”