19/07/2008

Limpeza de cavidades

Espeleologia
Porque bebem a água que poluem


[FORA DE PORTAS ● jornal Forum Ambiente nº 130, 23 de Maio de 1997]


© Paulo Arsénio/CEPPRT (digitalização do jornal Forum Ambiente 1997)

As populações continuam a encarar as grutas como vasadouros de lixo, degradando o património espeleológico e poluindo os aquíferos de que dependem. O Centro de Estudos e Protecção do Património da Região de Tomar está a desenvolver um projecto de limpeza de cavidades, onde o lixo, infelizmente, não falta.

O Centro de Estudos e Protecção do Património da Região de Tomar (CEPPRT), fundado em 1976, dedica-se, como o nome indica, ao estudo, protecção e divulgação do património natural e cultural da região de Tomar. A espeleologia desempenha um lugar de destaque nas actividades da associação, quer na sua componente científica, quer na sua vertente lúdica e desportiva, sendo periodicamente editado pelo núcleo de espeleologia da CEPPRT um boletim de divulgação, o “Morcego”. A associação tem desenvolvido trabalhos de localização e exploração de cavernas, tendo encontrado em algumas delas vestígios de ocupação humana.
A arqueologia e a protecção do ambiente têm, igualmente, lugar de destaque nas acções desenvolvidas pelo CEPPRT. De entre as actividades conservacionistas, salientam-se as organizadas em parceria com o Clube Aventura da Escola Secundária de Santa Maria do Olival, apoiadas pelo Instituto de Promoção Ambiental (IPAMB). Estas consistem na inventariação de locais poluídos da bacia hidrográfica do Rio Nabão e respectivos agentes poluidores, remoção de lixos em diversos locais (cursos de água, grutas,…) e recolha simbólica de cartuchos de caça. As actividades desenvolvidas pretendem fomentar nos alunos hábitos de preservação do meio ambiente: abordagem das problemáticas do meio onde a escola se insere; estimulo do espírito de iniciativa e de organização; consciência do papel importantíssimo, enquanto cidadãos, como agentes fundamentais de uma comunidade ecológica.
De entre as diversas iniciativas desenvolvidas pelo CEPPRT, salienta-se a limpeza de cavidades. O projecto de limpeza de grutas e algares, recorrendo a equipamento específico e técnicas de espeleologia, iniciou-se no dia 15 de Janeiro do corrente ano e irá decorrer até ao final do mês. No âmbito desse projecto, realizou-se, no passado dia 25 de Abril, a limpeza de dois algares e de uma galeria das Minas de Ouro de Poço Redondo. Para além da faceta ecológica, esta actividade proporcionou o encontro directo dos alunos com o objecto da espeleologia: as grutas e as cavidades artificiais, como as minas.
O Clube Aventura da Escola Secundária de Santa Maria do Olival e o CEPPRT formaram três “grupos de limpeza”. A um deles coube a tarefa de limpar o Algar do Montijo, situado na área da Gruta da Avescata (freguesia de Areias), já referida no Fora de Portas (jornal Forum Ambiente nº 125). O Algar do Montijo foi inicialmente designado por “Algar dos Remédios”, devido aos inúmeros restos de medicamentos que nele foram encontrados.
Findos os trabalhos de limpeza, esta primeira equipa deslocou-se até à Avecasta (vedada devido a trabalhos arqueológicos em curso) para apreciar a paisagem envolvente. Antes do regresso a Tomar, visitaram ainda um algar em Vales (freguesia de Além-da-Ribeira) juntamente com o segundo grupo. A este coube a tarefa de limpar o Algar de Casal de Baixo (freguesia de Além-da-Ribeira). Deste algar foram retirados dois contentores cheios de lixo, ficando ainda muito mais por carregar. O terceiro grupo limpou um dos poços das Minas de Ouro do Poço Redondo (freguesias da Junceira e de Olalhas). Nesse poço encontraram lixo de toda a espécie: garrafas de vidro e de plástico, panelas, bacias, objectos metálicos, animais mortos. O resultado traduziu-se em dois contentores de lixo que foram trazidos para Tomar a fim de serem depositados na lixeira municipal.
O mau hábito de transformar as cavidades em lixeiras torna-se particularmente gravoso se se tiver em conta a probabilidade de os aquíferos serem contaminados. Nos terrenos carbonatados, a grande permeabilidade contribui para o baixo poder de depuração das águas de escorrência. As populações livram-se, aparentemente, do problema do lixo mas, em contrapartida, estão a poluir as águas que utilizam.
A poluição de aquíferos devido ao lançamento de gado doente e lixo para grutas teve consequências particularmente gravosas durante a Idade Média. Para além do impacte sobre a qualidade das águas, as “lixeiras cavernícolas” atentam contra o património espeleológico sendo necessário irradicar situações desta natureza. O CEPPRT e o Clube Aventura da Escola Secundária de Santa Maria do Olival despoletaram a sensibilização para o problema e agiram no sentido da sua resolução.

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