09/07/2008

Algar do Peno


Espeleologia
Em nome do carso profundo


[FORA DE PORTAS ● jornal Forum Ambiente nº 120, 14 de Março de 1997]

Algar do Peno (PNSAC) © Tiago Petinga (Forum Ambiente, 1997)

O Centro de Interpretação Subterrâneo do Algar do Peno vai ser inaugurado no próximo dia 22. Um exemplo pioneiro de educação ambiental cuja temática se centra no endocarso.

O Algar do Peno situa-se a cerca de dois quilómetros da povoação de Pé da Pedreira, no Vale do Mar (depressão aberta no centro sul do Planalto de Sto. António), em pleno coração do Parque Natural das Serras d’Aire e Candeeiros (PNSAC).
Quando o Peno foi descoberto, em 1985, não se podia prever o grande interesse que iria suscitar e, menos ainda, a importância dos trabalhos que aí se iriam desenrolar. Em poucos anos, esta cavidade tornou-se um autêntico marco no panorama espeleológico português: não só revelou a maior sala até agora conhecida em Portugal (aproximadamente 1400 metros quadrados de área e 100 mil metros cúbicos de volume) como constitui um laboratório subterrâneo onde se desenvolvem diversos estudos.
Uma vasta equipa de técnicos empreendeu a exploração espeleológica, levantamentos topográficos e estudos de caracterização da cavidade (geologia, biologia, paleontologia,…) recorrendo a diversas metodologias de investigação: monitorização climática e geotécnica, análises de datação, estudos de frequência das estalactites, etc.. As informações fornecidas por esses estudos, após tríadas e hierarquizadas, para além de constituírem um valor científico de interesse inquestionável, constituem uma fonte de conhecimentos ao dispor dos visitantes.
O Centro de Interpretação Subterrâneo do Algar do Peno, um projecto-piloto integrado nas Rotas Europeias do Carso, poderá ser visitado já a partir do dia 22. Verá que se trata de uma iniciativa revolucionária sem qualquer paralelo no País.
Antes da descida, os visitantes recebem capacetes equipados com um sistema de telecomentário, via rádio-receptor de cinco canais, que permite optar pelo nível técnico do discurso de acordo com a idade, conhecimentos ou formação. Tapetes retiram das solas do calçado o pó arrastado e, já no interior da gruta, é obrigatória a passagem por um tapete anti-séptico. Uma antecâmara impede o contacto entre o exterior e a cavidade, estando equipada com um sistema de sensores que permitem repor eventuais desequilíbrios causados pelas visitas. A descida à gruta processa-se através de um elevador que transporta os visitantes até cerca de 35 metros de profundidade. No interior da cavidade, lâmpadas de vapor de sódio emitem a luz estritamente necessária: fontes de iluminação frias que evitam o desenvolvimento de espécies vegetais. A maioria dos visitantes irá apenas até à plataforma de observação, colocada num ponto priviligiado da cavidade.
Segundo Olímpio Martins, espeleólogo do PNSAC, o Centro de Interpretação Subterrâneo destina-se a sensibilizar as pessoas para a preservação das riquezas do “mundo subterrâneo” dando-lhes a “conhecer a história do carso profundo”. As visitas serão ainda complementadas por passeios pedestres a estações arqueológicas de superfície que se encontram nas proximidades da gruta. Um exemplo a seguir.

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