Perturbação dos morcegos cavernícolas
[FORA DE PORTAS ● jornal Forum Ambiente nº 123, 4 de Abril de 1997]
Gruta do Almonda (PNSAC) © Tiago Petinga (Forum Ambiente, 1997)
Das vinte e quatro espécies de morcegos conhecidas em Portugal, cerca de metade utilizam cavernas como abrigo. Nas últimas décadas, as populações de quirópteros diminuíram e a visita de grutas é apontada como uma das principais causas desse decréscimo.
Nas últimas décadas, as populações de morcegos cavernícolas têm vindo a diminuir. A perturbação antrópica das colónias é apontada como sendo o factor mais importante desse declínio. Na época de criação a perturbação das colónias de morcegos pode provocar uma alta mortalidade entre os juvenis (que caem do tecto no meio da confusão) ou levar ao abandono da cavidade. Sabendo-se que as populações de quirópteros são particularmente frágeis devido às baixas taxas de natalidade, cada fêmea tem apenas uma cria por ano e raramente duas, será lícito pensar que as populações afectadas recuperam lentamente o número de efectivos.
Durante o Verão, os morcegos acumulam energia no seu corpo a fim de sobreviverem à falta de alimentos durante a época fria, entrando então em período de hibernação com vista a minimizarem os gastos de energia. Se a hibernação for frequentemente interrompida, devido a perturbações, os morcegos arriscam-se a não sobreviver até à Primavera, época em que poderão novamente caçar no céu nocturno. A perturbação de colónias de morcegos toma proporções particularmente gravosas na região algarvia, devido ao fácil acesso que em geral as grutas aí apresentam.
Os morcegos que se encontram nas cavernas portuguesas são geralmente da família Vespertilionidae ou da Rhinolophidae. A primeira comporta, no território nacional, cinco géneros e dezoito espécies. As espécies Myotis myotis são as que em maior número ocorrem nas grutas, formando grandes colónias, por vezes com milhares de indivíduos, quer na época de reprodução quer na de hibernação.
Os Rhinolophidae encontram-se representados por quatro espécies, no entanto agrupam-se geralmente em pequenos bandos, encontrando-se muitas vezes apenas um ou dois indivíduos (frequentemente machos).
A situação de ameaça de extinção em que se encontram diversas espécies de morcegos europeias torna imperativa a defesa das suas colónias. O desaparecimento de uma colónia provoca consequências difíceis de avaliar nos ecossistemas da região e das próprias grutas, onde se poderá verificar o colapso da comunidade de invertebrados cavernícolas. O guano que se acumula no interior das cavernas é o suporte de uma fauna particular, podendo-se mesmo considerar uma verdadeira biocenose do guano constituída por guanóbios e guanófilos.
A fim de proteger as populações de morcegos, será necessário regulamentar o acesso de pessoas às grutas onde se localizam as mais importantes colónias. Uma das formas de evitar as visitas às grutas em épocas criticas de criação e/ou hibernação de morcegos seria o fecho das entradas das grutas-abrigo de mais fácil acesso e/ou mais frequentadas. A utilização de gradeamentos , que não afectassem a passagem dos morcegos e que não alterassem o clima da gruta, chegou a ser recomendada. No entanto, estudos recentes vieram colocar em questão a utilização de grades, pois verificou-se que perturbam o comportamento dos morcegos.
A conservação dos quirópteros terá de passar pela consciencialização e sensibilização das pessoas para a importância da conservação desses animais. Não visitar ou explorar grutas-abrigo de morcegos na época de hibernação (Novembro a Março) ou de criação (Março a Maio) será um bom começo.
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