Vandalismo no Zambujal
[FORA DE PORTAS · jornal Forum Ambiente nº 134, 20 de Junho de 1997]
Gruta do Zambujal (Arrábida) © Francisco Rasteiro (digitalização do jornal Forum Ambiente 1997)
Descoberta acidentalmente em 1978, devido a rebentamentos numa pedreira, a Gruta do Zambujal foi na altura protegida com o estatuto de Sítio Classificado. Depois, foi lentamente votada ao esquecimento. Actualmente continua a aguardar a regulamentação exigida por lei. Entretanto, a gruta é vítima de vandalismo.
Descoberta em 1978, a Gruta do Zambujal suscitou um interesse pouco usual. Foram colocados guardas junto às entradas, para evitar a vandalização do espaço e requeridos os pareceres dos geólogos Georges Zbyszewski e Veiga Ferreira, assim como da Associação Portuguesa de Investigação Espeleológica (APIE). Com base nos pareceres efectuados, a Gruta do Zambujal tornou-se na primeira cavidade portuguesa a beneficiar do estatuto de Sítio Classificado de interesse espeleológico (Decreto-Lei nº 140/79, de 21 de Maio). As duas entradas, então conhecidas, foram encerradas com gradeamentos.
O interesse que essa cavidade despertou, quer na comunidade científica quer no público em geral, augurava uma nova era para as grutas e carsos do País. No entanto, isso não sucedeu. Passados alguns anos, as grades que bloqueavam as entradas foram forçadas e as incursões antrópicas começaram a deixar as suas marcas. Por outro lado, a actividade extractiva, a menos de 500 metros de distância da cavidade (o que contraria o disposto no Decreto-Lei nº 89/90), revelou igualmente a necessidade de se efectivar a conservação desse “geomonumento”.
Para alguns, a destruição que se verificou no interior da cavidade resultou fundamentalmente de puro vandalismo. Opinião defendida entre outros pelo geólogo [e espeleólogo] Jaime Martins Ferreira. No entanto, houve quem contestasse esse ponto de vista. O geógrafo Carlos Sirgado, apoiado pela generalidade dos espeleólogos, apontou a actividade extractiva como a principal causa da destruição. Certo é que a frente de desmonte situada nas imediações da cavidade foi, ao que tudo indica, abandonada.
Actualmente, o problema centra-se no inpacte resultante de incursões antrópicas. No passado mês de Maio, Francisco Rasteiro, do Núcleo de Espeleologia da Costa Azul (NECA), deparou com a destruição de um gour e marcas resultantes do uso de gasómetros.
Paulo Marques, da Associação dos Espeleólogos de Sintra (AES) e membro também do NECA, confirmou a destruição e as marcas. O uso de gasómetros indica a presença de espeleólogos. Por outro lado, a relação de contemporaneidade entre essas marcas e a destruição do dito gour levantam a suspeita de que ambas as acções tenham sido perpetradas pelos mesmos indivíduos. Face ao sucedido, Carlos Sirgado, do Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa, manifestou à FORUM AMBIENTE a sua preocupação pelo estado de abandono em que se encontra a cavidade. Vulnerável a acções de vandalismo, infelizmente comuns nas grutas portuguesas, a Gruta do Zambujal poderá perder toda a sua beleza e valor patrimonial.
Uma equipa do Instituto de Conservação da Natureza (ICN) encontra-se a elaborar o regulamento pelo qual se irá reger esta área protegida. André Couto, do Parque Natural da Arrábida (entidade que irá fiscalizar o Sítio Classificado), assegura que se está a trabalhar a fim de garantir a conservação da Gruta do Zambujal. A prioridade consiste no encerramento da cavidade de modo a impedir o acesso e as continuas destruições. Até que o encerramento se concretize, as incursões antrópicas continuam, impunemente, a degradar esse “ex-libris” da espeleologia nacional.
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