21/07/2008

Poço dos Mouros

Espeleologia
A degradação do Poço dos Mouros

[FORA DE PORTAS · jornal Forum Ambiente nº 131, 30 de Maio de 1997]

Rocha da Pena (Algarve) © Alberto Corvo (digitalização do jornal Forum Ambiente 1997)

O Sítio Classificado da Rocha da Pena encerra uma das grutas mais espectaculares do distrito de Faro. O Poço dos Mouros, no entanto, tem sido vítima de sucessivas incursões antrópicas que provocaram a degradação da mesma e do ecossistema associado.

A Rocha da Pena (480 m), situada no limite setentrional do Barrocal algarvio, a norte da estrada Alte-Salir (concelho de Loulé), é o único relevo verdadeiramente vigoroso existente no Algarve. Carso alcandorado, talhado em calcários dolomíticos do Lias (Jurássico inferior), orientado segundo nascente-poente, ultrapassa os 50 metros de altura na vertente sul. No topo, planalto ligeiramente ondulado, encontram-se diversas formas lapiares, cerca de uma dezena de dolinas e algumas cavernas.
Uma dolina de abatimento, no planalto, dá acesso ao Poço dos Mouros (Caverna do Poço dos Mouros, Caverna dos Mouros, Buraco dos Mouros, Algar dos Mouros, Lapa da Pena, Gruta da Rocha da Pena). Cavidade rica em lendas e com vestígios arqueológicos, é uma das mais extensas do carso algarvio. Na sua sala terminal encontra-se uma importante colónia de morcegos e também foi assinalada a presença de fauna cavernícola. No entanto, aquela que foi considerada a gruta mais profunda do Algarve encontra-se desde há décadas sujeita aos mais diversos atentados.
Já em 1985, Rocha Cruz, do Núcleo de Espeleologia do Circulo Cultural do Algarve (NECCA), manifestou a sua preocupação pela situação de degradação e abandono em que se encontrava a Lapa da Pena. No ano seguinte, o Centro de Estudos e Actividades Especiais da Liga de Protecção da Natureza (CEAE - LPN) toma conhecimento, através do Ofício nº 923/86 do Serviço Nacional de Parques e Conservação da Natureza (SNPCN), “da acção nefasta exercida por grupos de jovens praticantes de Espeleologia e Montanhismo na Rocha da Pena”. O autor de FORA DE PORTAS alertou posteriormente (1988, 1993, 1995) para a degradação a que o Poço dos Mouros estava a ser sujeito, nomeadamente no que concerne à perturbação de morcegos.
Apesar de actualmente a Rocha da Pena ser um Sítio Classificado, as acções antrópicas contra o património natural aí existente continuam, por não se verificar na prática um planeamento integrado para a eficiente conservação e correcta dinamização da área.
Na sala terminal da Caverna dos Mouros encontra-se uma colónia de criação de Miniopteros schereibersii com mais de 2000 indivíduos e um considerável número de Myotis blythii e Rhinolophus mehelyi. A acção antrópica em cavernas-abrigo de morcegos é um dos factores mais significativos de impacte sobre o número de indivíduos de uma colónia. Na época de criação (Março a Maio) a perturbação de colónias pode provocar uma alta mortalidade entre os juvenis, que caem do tecto das grutas no meio da confusão, ou levar ao abandono da cavidade como local de criação. O aumento do número de praticantes de espeleologia e a, ainda mais grave, crescente acção dos visitantes ocasionais impõe que sejam tomadas medidas de conservação/protecção das colónias de quirópteros da Caverna dos Mouros. Verifica-se, pois, a necessidade de regulamentar o acesso à gruta, nomeadamente durante a época de criação. Essa medida poder-se-á estender eventualmente ao período de hibernação (Novembro a Março) ou mesmo, caso se justifique, ao encerramento permanente.

Poço dos Mouros (Algarve) © João Varela/CEEAA

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