11/07/2008

Ecomuseu da Avecasta

Espeleologia
Avecasta vai ser ecomuseu


[FORA DE PORTAS ● jornal Forum Ambiente nº 125, 18 de Abril de 1997]

© Tiago Petinga (Forum Ambiente 1997)

A Gruta da Avecasta foi palco de trabalhos para a sua abertura turística de que resultou a destruição de espólio arqueológico. A pronta intervenção de uma equipa da Faculdade de Ciências de Lisboa evitou o pior. Aguarda-se a criação de um ecomuseu.

Uma equipa dirigida por José Eduardo Mateus, da Faculdade de Ciências de Lisboa, está a efectuar uma intervenção “semi-urgente” na Gruta da Avecasta, concelho de Ferreira do Zêzere, a fim de recuperar o património arqueológico que aí se encontra. A jazida foi, em parte, destruída devido à intervenção da Câmara Municipal de Ferreira do Zêzere e da Junta de Freguesia de Areias, tornando-se urgente a intervenção da equipa de cientistas.
A descoberta de uma pequena sala concrecionada (Sala das Tubulares) na Gruta da Avecasta levou a população a pressionar o poder local no sentido da exploração turística da cavidade. Nesse contexto, decidiu-se abrir um acesso ao público de que resultou o traçado de um “caminho” até à dita sala. Essa intervenção teve como resultado imediato a destruição de parte do espólio arqueológico da gruta. A Sala das Tubulares encontrava-se colmatada até ao tecto. No seguimento da destruição verificada, foi dado o alerta e os trabalhos foram interrompidos.
A autarquia consciencializou-se para a importância da Avecasta, que encerra uma aldeia de há quatro mil anos, talvez única na Europa. Actualmente, a edilidade tenta emendar a intervenção efectuada na cavidade através do apoio da equipa de cientistas nos trabalhos de escavação. Uma escavação que, para além de tentar recuperar o espólio arqueológico existente, proporciona o estágio, na prática, a diversos alunos na área das Ciências da Terra e da Vida. Alunos e especialistas estão a proceder ao levantamento arqueológico de espólio do Neolítico, Idade do Cobre, Idade do Bronze, Idade do Ferro, Época Romana e Idade Média.
Os trabalhos arqueológicos remontam às campanhas efectuadas de 1980 a 1983, tendo parado devido à falta de verbas. O alerta sobre a destruição da gruta levou, no entanto, a equipa a retomar os trabalhos em curso, desta feita financiados pela União Europeia e apoiados pela Câmara Municipal de Ferreira do Zêzere.
A equipa de técnicos pretende criar um ecomuseu na Gruta da Avecasta, um dos locais em Portugal com maiores potencialidades para estudo da evolução humana e da paisagem. Perspectiva-se, assim, a criação de um programa-piloto com o fim de gerir essa cavidade e a área envolvente. O local onde se situa a Gruta da Avecasta, de grande beleza paisagística, encontra-se na proposta preliminar da Lista Nacional de Sítios a integrar na Rede Natura 2000: a rede europeia de sítios de interesse ambiental enquadrados na Directiva Habitats (92/43/CEE). De facto, a conservação dos habitats e de espécies da flora e fauna selvagens, a que acresce o património espeleológico e arqueológico, justificam a preservação e a dinamização das potencialidades da Gruta da Avecasta. Espera-se o ecomuseu.

6 comentários:

Bufo-Real disse...

Esta cavidade espera tudo!!!! Apesar de ser um marco na arqueologia nacional, não é alvo de trabalhos faz muito tempo!!!

É uma sala fantástica, ocupada pelo Homem desde sempre (os vestígios dizem isso mesmo!). A cavidade tem dimensão para albergar muita gente, estórias da aldeia da Avecasta falam-nos das Invasões Francesas e sua passagem na zona, facto que levou a população mudar-se em peso para a gruta, levando os franceses a pensar que estava a a aldeia abandonada e seguiram caminho!!

Pena estar "fora" dos roteiros da espeleologia portuguesa, muito poucos a conhecem, e salas destas não há por todo o carso nacional.

SM

PS: A vedação do ex-IPA não faz lá nada!!! É só pseudo-protecção!!!

Pedro Cuiça disse...

Obrigado pelo teu comentário. Desconhecia por completo essas interessantes referências no tocante a esta gruta e às invasões francesas.
Infelizmente, o problema do fecho de grutas é recorrente no que concerne à ineficácia da maior parte das soluções.
Abraço

Anónimo disse...

Mais uma promessa de ecomuseu, devia ser moda naquela época.
Depois coloca-se uma vedação e já está.
Abraço

Pedro Cuiça disse...

De facto, na altura falava-se bastante em ecomuseus, geomonumentos e centros de interpretação, entre outras iniciativas com vista à conservação do carso em geral e do património espeleológico em particular.

J. C. Gomes disse...

Estive lá ontem e a vedação tem um enorme buraco junto ao portão.
Tem aspecto de ter sido vandalizada, o que é uma pena.

Pedro Cuiça disse...

É lamentável...