07/10/2008

Salir do Porto

Espeleologia
Gruta de Salir
Espera solução

[FORA DE PORTAS ● jornal Forum Ambiente nº 285, 30 de Maio de 2000]

O património subterrâneo tem sido vítima das incursões a que é sujeito. O exemplo da Gruta de Salir do Porto vem lembrar, mais uma vez, que é necessário agir.

Salir do Porto © Pedro Cuiça (1999)

A Gruta de Salir do Porto, património natural único no concelho das Caldas da Rainha, tem vindo a sofrer, desde há anos, diversas incursões que se traduziram na sua gradual degradação. Para evitar a situação, o Centro de Actividades Desportivas (CAD), a Junta de Freguesia de Salir do Porto e a Câmara Municipal das Caldas da Rainha (CMCR) resolveram encerrar a gruta. O encerramento ocorreu no dia 4 de Março e o arrombamento registou-se logo depois, a 11 de Março. Fernando Oliveira, presidente do CAD, salienta que “à entrada foi deixado um papel plastificado com informações específicas para possíveis interessados em a visitar”. Mas estes não seguiram as especificações e mais uma vez apareceram formações danificadas e destruídas.
A Forum Ambiente visitou a Gruta de Salir do Porto e constatou a pintura e a destruição de estalactites, estalagmites, excêntricas, etc.. Mas também constatou quantidade e variedade de concreções que ainda tornam essa gruta num verdadeiro geo-recurso de interesse cultural, que é urgente preservar, estudar e, eventualmente, divulgar. Oliveira e mais quatro companheiros do CAD guiaram-nos nessa visita ao mundo subterrâneo.

Um património único
Octávio da Veiga Ferreira, no seu trabalho “Cavernas com Interesse Cultural encontradas em Portugal” (1982), destaca as “belas formações litoquímicas” da Gruta de Salir do Porto. Também C. Thomas, no livro “Grottes et Algares du Portugal” (1985), salienta o interesse turístico da Gruta de Salir do Porto.
A gruta, que “contém verdadeiras maravilhas”, já se encontrava ameaçada pelas pilhagens e pela destruição, facto a que não estará alheio o ser de fácil acesso. Segundo o autor, a cavidade era “regularmente fechada pelo município e não menos regularmente aberta por curiosos”.
Diogo Abreu, contactado pela Forum Ambiente, esclareceu que a gruta terá sido descoberta nos anos 60, devido à laboração de pedreira que ainda se encontrava em funcionamento. Para esse geógrafo e espeleólogo, a cavidade poderia constituir um “pequeno pólo de desenvolvimento local ligado às pessoas”.

Conhecer para proteger
O CAD está preocupado com o recente interesse que a gruta tem suscitado. É que o projecto “Vamos Proteger a Gruta de Salir” foi apresentado à CMCR em Setembro de 1996 e ainda não obteve uma resposta concludente. O projecto foi apresentado pela Associação de Técnicos de Espeleologia (ATE) e passou, mais tarde, para o CAD.
Este projecto, apresentado à CMCR em Setembro de 1996, propunha-se “efectuar a topografia total da gruta, limpeza e um trabalho de prospecção de possíveis novas galerias (principalmente no Poço das Areias)”, bem como executar “um levantamento da fauna cavernícola e ainda uma reportagem fotográfica e vídeo”. O projecto propunha ainda o estabelecimento de um protocolo entre a ATE e a CMCR. Entretanto, a Forum Ambiente contactou a vereadora da cultura da CMCR a fim de conhecer as posições da autarquia face ao futuro da Gruta de Salir do Porto, mas nã foi possível obter qualquer declaração até ao fecho da edição.
José António Crispim refere que a Sociedade Portuguesa de Espeleologia (SPE) tem um “grande interesse em ver preservada e devidamente recuperada a Gruta de Salir do Porto”. O presidente da direcção nacional da SPE salienta que “a gruta é pequena e é frágil”, e vai ter de se decidir o que fazer, quais as alternativas, pois está em jogo um “interessante valor do património geológico e espeleológico regional”.

Salir do Porto © Pedro Cuiça (1999)

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