“É comum ver hoje designadas as nossas sociedades como “sociedades do conhecimento”. A produção e a difusão de saber científico são aspectos-chave do funcionamento deste tipo de sociedades, o que confere às suas comunidades científicas um papel estratégico. É por isso que, com regularidade, os governos reafirmam ritualmente o seu investimento na sociedade do conhecimento em geral (…). Ora, a Fundação para a Ciência e Tecnologia tornou públicas, no final do ano passado, as classificações dos centros de investigação que financia.
(…)
As investigações norte-americana e inglesa têm vindo a adquirir progressiva influência no sistema científico internacional, convertendo-se numa verdadeira dominação. (…) No caso vertente, elas ditam aquilo que deve ser investigado, o formato em que devem decorrer os certames de especialistas, em que órgãos da comunicação da ciência devem ser publicados os resultados e em que língua os investigadores devem expressar-se (…)
Para os avaliadores da FCT, não conta publicar um artigo numa revista brasileira ou espanhola? E polaca ou grega? Os polacos ou os gregos não conseguem fazer uma revista científica que valha pontos? Quando fazemos investigação solicitada e financiada por instituições portuguesas, devemos escrever os relatórios em inglês? E, se a problemática for pouco interessante para os norte-americanos, por razões da nossa especificidade sociocultural, não podendo publicá-las nesses países, esta investigação não vale pontos? Publicá-la aqui não serve para nada? Então a produção de saber não deve ser utilizada pela comunidade a que diz respeito? Não visa agir na nossa realidade próxima? E, se publicar aqui não vale nada, como pode algum dia chegar-se a ter uma boa revista científica? (…)
Que fazemos do pensamento crítico, que devíamos ter tão treinado?
Como somos tão complexos e críticos para umas coisas e tão simplórios e amorfos para outras? (…)”
P.S.: Recebi este artigo, da autoria do investigador Luís Fernandes, que foi publicado no jornal Público (in Opinião, de 27/01/2009), através de e-mail enviado por um amigo, também ele investigador. O primeiro é investigador na área das ciências sociais e humanas, o segundo na área das ciências da Terra e da vida. Não resisti a colocar no Spelaion alguns trechos do artigo em causa. Numa sociedade dita “do conhecimento” antes de mais estará subjacente o acto de conhecer… Ou não será assim? :)