29/01/2009

Grutas vulcânicas

Algar do Carvão © Os Montanheiros

Vulcano-espeleologia
Visita à Terceira subterrânea


[FORA DE PORTAS ● jornal Forum Ambiente nº 295, 8 de Agosto de 2000]

O desenvolvimento da espeleologia nos Açores e a exploração do Algar do Carvão estão profundamente associados. A Forum Ambiente visitou o “mundo subterrâneo” da ilha Terceira, que agora dispõe também da Gruta do Natal e da Furna da Água.

Furna da Água (Terceira, Açores) @ Anabela Trindade (1995)

As cavidades vulcânicas dos Açores constituem um património natural de inegável valor. Um património que urge conhecer e preservar. O Algar do Carvão, a cavidade mais visitada no arquipélago, foi a primeira a revelar a sua beleza ao público. Mas, existem outras cavidades de grande interesse, algumas também passíveis de serem visitadas. A ilha Terceira, para além do Algar do Carvão, conta agora com a Gruta do Natal e a Furna da Água.
A Forum Ambiente visitou o “mundo subterrâneo” da ilha Terceira e constatou a importância do mesmo. Descer às profundezas da Terra é conhecer um pouco da história da Terra e da vida. Uma visita diferente às paisagens subterrâneas dessas ilhas atlânticas.

Um algar chamado “Carvão”
A vulcano-espeleologia surgiu no arquipélago dos Açores nos finais do século passado e encontra-se estreitamente ligada ao Algar do Carvão. Uma chaminé vulcânica, que se desenvolve sob dois cones de escórias (bagacina), associada ao Complexo Vulcânico do Pico Alto (Terceira). O algar situa-se na Caldeira de Guilherme Moniz, a cerca de 1300 metros do Tentadero de Santo Antão e a 14 quilómetros de Angra do Heroísmo.
O Algar do Carvão inicia-se num troço sub-vertical de 45 metros de altura que dá acesso a três salas de dimensões consideráveis. Na zona mais afastada da entrada, a cerca de 90 metros de profundidade, encontra-se um pequeno lago alimentado pelas águas de infiltração.
A exploração do Algar do Carvão remonta ao dia 26 de Janeiro de 1893 e deve-se a Cândido Corvelo e José Luís Sequeira. Didier Couto efectuou a segunda descida, em 1934, tendo elaborado o primeiro esboço (um perfil) da cavidade. Mas a primeira topografia do Algar do Carvão deve-se a Montserrat e Romero (1983).

Algar do Carvão © Os Montanheiros

“Os Montanheiros” desceram ao Algar do Carvão, em Agosto de 1963 (ano da sua fundação), sob a direcção de Américo Lemos. As obras de abertura do túnel de acesso à cavidade decorreram de 28 de Maio de 1965 a 28 de Novembro de 1966. A primeira escadaria no interior do algar foi instalada em 1968. No final desse ano (a 1 de Dezembro) verificou-se a abertura ao público. Na década de 70 foi instalada luz eléctrica (1970), construída a actual escadaria (1977) e a casa-abrigo (1978). O Algar do Carvão foi classificado, em 1987, como Reserva Natural Geológica (Decreto Legislativo Regional nº 13/87/A). Na reserva, definida pela linha que dista 100 metros da base dos cones onde se abre o algar, são proibidas quaisquer alterações no terreno, fauna ou flora.
A Gruta do Natal, um túnel de lava com cerca de 697 metros de desenvolvimento total, foi aberta ao público, também pela associação “Os Montanheiros”, no dia 1 de Dezembro de 1998. A cavidade, devidamente acondicionada e com instalações de apoio, localiza-se na Reserva Florestal Natural da Serra de Santa Bárbara e Mistérios Negros.
A Furna da Água situa-se no lado oeste da Caldeira de Guilherme Moniz, entre o Pico Espigão Barreiro e o Pico da Cruz, próximo da lagoa artificial do Cabrito. Trata-se também de um túnel de lava, com cerca de 560 metros de desenvolvimento, incluindo os túneis abertos pelo Homem. Calcula-se que a extensão original fosse de 458 metros. As visitas devem ser solicitadas aos serviços municipalizados da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo.
A Gruta do Natal e a Furna da Água apresentam características muito diferentes das do Algar do Carvão, complementando, por isso, o conhecimento do “mundo subterrâneo” em terrenos vulcânicos. Visitar o Algar do Carvão e a Gruta do Natal ou a Furna da Água representa uma lição ímpar sobre o património espeleológico açoriano.

Algar do Carvão © Os Montanheiros

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