21/02/2008

Um olho cego...

(…) uma passagem pelo sítio da Quercus na Rede e uma leitura do seu balanço do melhor e do pior de 2006 mostra como há um olho firmemente fechado, quando não cego de todo: aquele que não vê a rápida desaparição da nossa paisagem natural com a colocação de aerogeradores, as “ventoinhas”, por tudo quanto é monte e linha do horizonte ainda bravio.
Percebe-se bem porquê: trata-se de um grande negócio, um dos grandes negócios dos dias de hoje, fortemente subsidiado, movendo interesses cada vez mais alargados - empresas multinacionais, autarquias, grupos empresariais, e… ecologistas - e que alastra com a mesma velocidade rapace de outros que o procederam. A velocidade das eólicas é semelhante na sua imposição de situações “económicas” de facto à construção civil, ao urbanismo selvagem, às suiniculturas no tempo em que davam dinheiro fácil. Existem, como é óbvio, recomendações europeias, muito tímidas aliás, sobre os efeitos de degradação do ambiente, poluição sonora, destruição da linha da paisagem, etc., mas nem essas débeis resoluções recebem qualquer atenção dos nossos ecologistas que vendo tudo em todo o lado, sapos e cogumelos, isótopos e transgénicos, não vêem o caos que está a ser a colocação de aerogeradores em tudo quanto é cumeada livre e com vento. (…)

José Pacheco Pereira (Um olho cego e outro que vê; Sábado nº 141, 11-17/01/07)

[Antes da proliferação de “ventoinhas”, uma cumeada livre era a da Serra dos Candeeiros em pleno Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros (PNSAC). Mas num parque pejado de pedreiras, entre outros atractivos, já pouco nos admira. E o fenómeno não ficará por aqui...
Qualquer dia ainda teremos oportunidade de assistir à colocação de aerogeradores nas cumeadas da Arrábida: também é um Parque Natural e tem pedreiras, só falta mesmo colocar umas “ventoinhas”.
Como a realidade para muita gente surge a preto e branco, é simplesmente boa ou é má, esquecendo as diversas cambiantes dos tons intermédios e, sobretudo, que existem outras cores, grande parte dos ecologistas estarão “bloqueados” pelo chavão da energia renovável: “ventoinhas sim, obrigado”. Ecologistas e não só, também existem praticantes de actividades de ar livre (entre os quais espeleólogos) que estão encantados. Resta esperar que acabe o encantamento para ver as consequências de tamanha falta de vista.]

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