[Revista Futuro ● Ano II, nº 16, Mai. 88, pp. 36-37]
Leão das Cavernas descoberto em grutas portuguesas
No decurso do estudo das faunas quaternárias de Portugal, levado a efeito pelo Centro de Estratigrafia da Universidade Nova de Lisboa com o apoio dos Serviços Geológicos de Portugal, M. Telles Antunes demonstrou, pela primeira vez, a presença de Panthera (Leo) spelaea (Goldfuss, 1810) no território português.
Os restos de grande felino provenientes da Pedreira das Salemas, em Ponte de Lousa, que foram recolhidos por Octávio da Veiga Ferreira e Georges Zbyszewski, quando analisados por M. T. Antunes foram reconhecidos como sendo de Leão das Cavernas (Panthera (Leo) spelaea), determinação que foi confirmada quando esses restos foram comparados com material idêntico do Musée National d’Histoire Naturelle, de Paris.
Posteriormente, M. T. Antunes identificou, em colecções do Instituto de Antropologia da Universidade de Coimbra, um canino completo atribuível à mesma espécie, proveniente de uma gruta dos arredores de Penacova.
O material que permitiu a identificação do Leão das Cavernas no nosso território consta de quatro caninos superiores provenientes da Pedreira das Salemas e da gruta perto de Penacova. Os restos da Pedreira das Salemas pertencem certamente três indivíduos: um subadulto, um adulto provavelmente fêmea e um macho (?) adulto possivelmente senil, todos eles provenientes de depósitos do mustierense. O exemplar único, encontrado em 1921 numa gruta perto de Penacova, em condições mal conhecidas, poderá ser datado do Paleolítico médio ou superior. Em ambos os casos, os indivíduos são de grande porte, atingindo dimensões próximas das máximas observadas para a espécie e ultrapassando as dimensões da maioria dos exemplares conhecidos.
A Panthera (Leo) spelaea, que caracteriza o Plistocénico recente da Europa, segundo os pontos de vista recentes, é considerada uma espécie afim do leão. Esse grande felino troglófilo frequentava os locais secos das grutas, deitando-se de preferência em locais elevados, o que lhe permitiria descansar e ao mesmo tempo saltar sobre qualquer visitante imprudente. As marcas do Leão das Cavernas, no interior das grutas, são muito mais raras do que as dos ursos, e também mais difíceis de distinguir, não se encontrando traços de unhadas nem esqueletos inteiros. Restam apenas partes dos esqueletos nos depósitos de ossos, misturados com outros animais, sendo geralmente no fundo de depósitos que se descobrem os dentes e crânios destes felinos.
A existência do Leão das Cavernas em, pelo menos, duas jazidas portuguesas vem ampliar a distribuição geográfica da espécie e confirmar a sua relativa frequência na Península Ibérica; já que, até 1950, eram conhecidos restos desse animal em sete localidades da vizinha Espanha.
University of California Museum of Vertebrate Zoology
21/02/2008
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