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No Algarve situa-se a segunda maior extensão de calcários de Portugal. Aqui se encontram inúmeras grutas com uma riqueza incalculável e sobretudo desconhecida. Desconhecida porque actualmente podemos dizer que o Algarve subterrâneo não está devidamente estudado, podendo nunca vir a sê-lo porque a maioria das grutas estão em avançado estado de degradação.
No século passado, Estácio da Veiga foi nomeado pelo governo português para fazer um levantamento das Antiguidades Monumentaes do Algarve. Esse grande arqueólogo tentou empreender o estudo das grutas algarvias, mas foi impossibilitado de o fazer. “Cumpri, portanto as ordens do governo não explorando as cavernas (…). É uma lacuna que fica em aberto, sem que nunca possa ser-me apontada como censura.” Assim se exprimia, exactamente há cem anos, esse grande homem da ciência portuguesa, que acreditava vivamente no interesse científico que as grutas algarvias encerravam.
Passaram-se anos e as grutas da região foram votadas ao abandono, tendo sido destruídas aos poucos, durante passeios subterrâneos levados a efeito por “caçadores de estalactites”.
A Sociedade Portuguesa de Espeleologia que estudou algumas grutas algarvias, noticiava na revista Algarocho, de Outubro/Janeiro de 1977/78, o seguinte: “A Gruta de Ibne Ammar, de acesso bastante fácil, e que possui um dos maiores lagos subterrâneos conhecidos em Portugal, está em avançado estado de degradação. As estalagmites acessíveis estão totalmente destruídas. As paredes, mesmo as do lago, estão pintadas com as mais variadas inscrições e no chão, inclusive no lago, há bastante lixo desde bocados de madeira até plásticos, beatas, tubos de ferro, etc. Além disso, os morcegos (…) estão a desaparecer.”
Penso que esta notícia ilustra bem até que ponto as grutas algarvias sofreram o ataque de energúmenos sem quaisquer escrúpulos, estando as autoridades responsáveis perfeitamente alheadas do problema, sem tomarem as devidas medidas de protecção das cavidades subterrâneas.
O interesse pela espeleologia foi felizmente fomentado em Portugal e como consequência surgem alguns grupos de “espeleo” no Algarve. Desses grupos, salientamos os trabalhos empreendidos pelo Centro de Estudos Espeleológicos e Arqueológicos do Algarve, com sede em Moncarapacho, e que estudaram essencialmente o Cerro da Cabeça, sob a direcção do arqueólogo José Fernandes Mascarenhas e do espeleólogo João Humberto Viegas. Apesar dos estudos empreendidos pelo CEEAA o cerro, possuindo um dos mais belos lapiás do Algarve, sofreu uma grande destruição dos últimos anos a esta parte. Como é óbvio, o estudo das grutas é um grande passo para o respeito pelo mundo subterrâneo mas, sobretudo, é necessário protegermos esse mundo dos ataques de ignorantes, incautos e criminosos.
Um novo alerta surge em 1985 quando o Núcleo de Espeleologia do Circulo Cultural do Algarve expõe no Correio da Manhã e no Jornal do Algarve a sua preocupação pela destruição das grutas algarvias. Na notícia, sob o título Grutas algarvias estão ameaçadas, Luís Rocha Cruz, responsável do NECCA, afirma: “Aventureiros por conta própria as tenham explorado (grutas) deixando marcas bem visíveis da sua passagem, designadamente com a destruição de algumas estalactites e sujidade nos interiores.”
Até quando é que situações destas irão ser permitidas? Quando é que as autoridades responsáveis conseguirão aperceber-se de que as grutas são um património de todos nós, que importa preservar? Dúvidas que nos ficam…
(...)
3 comentários:
Não deixa de ser curioso que no segundo dia de existência deste blogue o primeiro comentário recebido seja um virus! Trata-se, sem dúvida, de uma forma diferente de expressão... Tudo de bom também para ti Jon.
com agrado li o teu blog e comfirmo o que descreveste inflismente
um abraço e o maior apoio perante essa calamidade.
Paulo Sousa
Obrigado Paulo Sousa. Abraço.
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