14/07/2011

E agora, a LUA!...




Porque por estas noites está (quasi) Lua Cheia e porque, na sequência dos últimos posts, estará na altura de inter-relacionar algumas das temáticas afloradas vamos recorrer a uma obra da autoria de Moisés Espírito Santo para tal efeito: Cinco Mil Anos de Cultura a Oeste - Etno-história da Religião Popular numa Região da Estremadura (Assírio & Alvim, 2004). Pode parecer estranho num blog sobre espeleologia falar acerca da Senhora da Conceição, da Serpente, da Caverna enquanto "Ventre" e, agora, da Lua mas na verdade fará mais sentido do que, à primeira vista, possa parecer. Aproveitemos, então, a luminosidade selenita do plenilúnio que se anuncia, nesta noite ventada de Norte, para deixar algumas frases soltas desse magnífico tratado de Espírito Santo. Noutra Lua, na qual disponha de mais tempo para a escrita, tentarei ir mais além no assunto...


"A Senhora ibérica da Conceição/Concepción - a autêntica Senhora da Conceição popular - é a herdeira directa do mais antigo culto da Magna Mater criadora, a Lua-Mãe em sintonia com a Terra-Mãe." (Espírito Santo, 2004; p. 12)

"O protótipo da lenda portuguesa da Moura Encantada - que é da cultura fenícia ou púnica - foi criado a partir da palavra m'wra ("luzeiro, sol ou lua")." Espírito Santo, 2004; p. 79) Segundo o autor, essa palavra m'wra (maora) tem igualmente afinidades com mowrh (mauora) com o significado de "cova, caverna" e, curiosamente, "nudez", entre outras significações.


"A Senhora da Conceição é a que concebe, a que engendra, a que dá à luz. O nome é entendido de modo activo, como um agente com iniciativa de conceber. (...) Ela é a da Concepção." (Espírito Santo, 2004; p. 102)
"Esta invocação e esta imagem foram o melhor caminho para se passar do culto matriarcal da Magna Mater, da Criadora para o de Maria." (Espírito Santo, 2004; p. 105)

"As imagens populares da Conceição (a que concebe), além de terem um menino, identificam-se pelo crescente lunar, por uma serpente aos pés (por vezes, a serpente enrola-se ao busto) e um diadema de doze estrelas. O crescente lunar aos pés e a serpente são os sinais identificadores da "verdadeira imagem" da Conceição. Nas espanholas e alentejanas o crescente é larguíssimo, desproporcionado relativamente à imagem (também evoca chifres de bovino); geralmente é postiço ou amovível, de modo que, aquando das procissões, tira-se para não tocar nos acompanhantes." (Espírito Santo, 2004; p. 107)


"A serpente das imagens da Conceição (a que concebe) é um símbolo da Magna Mater. Segundo as crenças antigas, a serpente reproduz-se por partenogénese (engendra filhos por sua única iniciativa, sem participação masculina) e é imortal, porque muda de pele. Por isso, é um avatar da Lua e da Terra que também mudam, morrem e renascem." (Espírito Santo, 2004; p. 108)

"O crescente lunar da Senhora da Conceição denuncia que esta sucedeu ao culto da Lua considerada a autora da procriação humana e animal e dos ritmos naturais. Em Portugal, o culto à Lua durou até ao século XX como veremos, e é de origem oriental (babilónica, fenícia, egípcia e púnica). (...) Todas as antigas religiões do Mediterrâneo (excepto a romana oficial) veneravam a Lua. Era a autora da procriação humana, animal e vegetal. No Próximo Oriente foi antropomorfizada com imagens e nomes próprios: Sin, Istar, Astarté, Ísis e, em Cartago romanizado, Celestis, representadas como uma mulher com um crescente lunar sobre a fronte. A Senhora Ibérica da Conceição/Concepción (a que concebe) é a sua herdeira directa." (Espírito Santo, 2004; p. 109)

"Para os lusitanos, a Lua foi uma potência divina. Há trinta ou cinquenta anos, o povo português ainda rezava à Lua." (Espírito Santo, 2004; p. 178)

"O morro mais elevado da serra dos Candeeiros (520 metros) chama-se, segundo consta na Cartografia militar, Monte da Lua e as colinas em volta deste, Serra da Lua. (...) Foi a serra da Lua como a de Sintra." (Espírito Santo, 2004; p. 381)


3 comentários:

Unknown disse...

Muito interessante esta iluminação nesta noite de luar

Pedro Cuiça disse...

Muito obrigado pelo comentário.

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.