09/07/2011

Cova da Raposa

É um lugar à parte, no espaço e no tempo. Rodeado pelo vulgar, surge manifestamente um lugar invulgar, raro nos dias que correm, um locus especial. Já o era há muito tempo, muito antes de ter sido rodeado/cercado pela "civilização", por estradas, casas, barulhos motorizados!... Uma geografia ímpar desde logo pela geomorfologia marcada sob a forma de vale encaixado e pela densa mancha verde do arvoredo arbustivo, contrastante com os calcários cinza, onde se esconde um seco leito de ribeira à sombra do fresco emaranhado vegetal. No Inverno far-se-ão ouvir efémeras águas de escorrência mas, hoje, ao calor do estio apenas se escuta o zumbido de insectos voadores e a vegetação animada pela aragem. E contudo esse local, situado a uma vintena de quilómetros de Lisboa, subsiste na sua quase pureza ancestral, como que olvidado, alheio na sua altaneira vista sobre a ampla planura que se estende para poente. É um desses sítios recônditos, de difícil acesso ou cuja rústica aridez pedregosa manteve a modernidade afastada, precisamente pelos mesmos motivos que atraiu os antigos. Estes encontraram aí abrigo e certamente mais que isso... Hoje a sua presença inefável prova-se pelos testemunhos materiais aí encontrados sob a forma de restos osteológicos de humanos e de animais, instrumentos de sílex e fragmentos de cerâmica que remontam ao Paleolítico e ao Neolítico. Mas essa improvável existência inefável é tão presente quanto o inconfundível odor a raposa que aí se emana. Não será por acaso que a maior das três cavernas que aí surgem se chama "Cova da Raposa". Talvez aí não haja acasos...

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