13/07/2011

A atracção... (II)

Há cerca de duas semanas fui abordado por um companheiro de actividades de montanha que me telefonou indagando sobre um artigo que eu teria escrito, e que se encontrava na internet, sobre a Gruta do Abade. Ele estava a elaborar um plano de resgate para a área da Arrábida e gostaria de saber mais pormenores sobre essa cavidade, acontece que, como lhe expliquei desde logo, nunca escrevi sobre a Gruta do Abade! No entanto, ele assegurava-me que tinha lido um artigo acerca dessa gruta assinado por mim, no qual se falava de uma cidade subterrânea, com iluminação "própria", um povo troglodita e outras estranhas alusões... Fiquei bastante preocupado! Depois de uma busca na internet cheguei rapidamente à conclusão que face ao conjunto de prints que lhe tinham sido entregues, incluindo alguns do Spelaion sobre grutas da Arrábida, gerou-se um mal-entendido... De facto, existem diversos artigos e comentários on-line sobre a Gruta do Abade mas nenhum foi escrito por mim e também, de facto, essa gruta está envolvida por estórias do "arco-da-velha". Mas tal não será de espantar tendo em conta que o mundo subterrâneo sempre foi alvo de uma inegável atracção, nomeadamente por estar oculto e, por isso, envolto em mistério. O mundo subterrâneo, personificando o desconhecido, dá azo a inúmeras concepções alternativas, dá asas à imaginação, à geração de abundantes lendas e... historietas. Ao estilo dos caçadores e pescadores, as pessoas do campo que falam de grutas da sua região contam que estas vão dar "não sei onde" invariavelmente demasiado longe ou num onde manifestamente impossível de ser verdade. Curioso é verificar que pessoas pretensamente cultas também embarcam nessas cantilenas e ainda para mais em geografias difíceis de sustentar tais relatos como na Serra de Sintra! Por outro lado, a alusão a seres e habitantes das cavernas, desde duendes a mouras encantadas, para não falar de estranhos bestiários, como aquele que é apresentado no Mundus Subterraneus de Athanasius Kircher, são ainda hoje vulgares. Mais curioso ainda é constatar que muitos desses narradores, também ao estilo kircheneano, nunca entraram numa gruta ou, pelo menos, nas espeluncas que descrevem e pretensamente dizem conhecer. Estes tratam-se, sem dúvida, de fenómenos bastante interessantes que importa abordar com alguma profundidade e, portanto, voltaremos a esta fenomenologia um dia destes...

2 comentários:

Ana Carvalho disse...

Olá! essa fenomenologia, como lhe chamas tem uma razão de ser. Talvez nunca lá tenham entrado, talvez não seja nada do que dizem... mas se falam em coisas antigas, invariavelmente, pela minha experiência de campo (enquanto arqueóloga) tem um significado, embora não deva ser levado à letra.
Também tenho pensado nessas fenomenologias e tenho pensado em falar delas no meu blog :)
Beijos

Pedro Cuiça disse...

Sem dúvida, essas coisas antigas encerram muitas vezes verdades insofismáveis mas devemos ter algum cuidado no que concerne a separar o fundo de verdade da mera especulação e/ou delírio. E, nessa matéria, o mundo subterrâneo é por demais pródigo :) De resto, quando me refiro a esta fenomenologia não é no sentido pejorativo, bem longe disso, é porque apenas se tratam de fenómenos, em si, muito concretos. Aliás, por isso mesmo, é que referi a vontade de voltar a abordar o assunto com mais profundidade... Obrigado pelo comentário :)