Grutas no “segredo dos deuses”
[FORA DE PORTAS ● jornal Forum Ambiente nº 250, 28 de Setembro de 1999]
Gruta do Frade (Arrábida) © Francisco Rasteiro (2000)
A cordilheira da Arrábida encerra grutas de espectacular beleza e raridade. Um mundo que o Núcleo de Espeleologia da Costa Azul se tem encarregado de dar a conhecer. A última descoberta deixou atónitos esses descobridores da escuridão.
A espeleologia, ciência-desporto que estuda e explora as cavernas, possui uma componente rara nos dias de hoje: a descoberta. Com efeito, ainda é possível ter a imensa alegria de descobrir novas cavidade, salas de grande beleza ou galerias inexploradas. No final do milénio, quando o Homem já explorou os pólos, as profundezas oceânicas e o espaço extraterrestre, o mundo subterrâneo continua a proporcionar surpresas aos descobridores do reino das trevas. O Carso da Arrábida não foge à regra e o Núcleo de Espeleologia da Costa Azul (NECA) assim o tem demonstrado, com a descoberta de novas grutas.
Geralmente são cavidades de pequenas dimensões e pouco concrecionadas, mas a última descoberta dos espeleólogos sesimbrenses foi verdadeiramente excepcional. Se a Gruta do Zambujal era a pérola da espeleologia, a sul do Tejo, a cavidade agora descoberta é um autêntico tesouro.
Dar novos mundos ao mundo
A exploração da gruta data de há três anos atrás, mas o NECA já conhecia a sua existência devido a prospecções efectuadas de barco ao longo da costa. A entrada da cavidade situa-se perto do nível médio das águas do mar e, já na altura da primeira exploração, suscitou a surpresa dos espeleonautas.
Uma corrente de ar, detectada numa diminuta passagem, despertou a curiosidade dos espeleólogos que resolveram levar para a frente a desobstrução. A necessidade de usar martelo pneumático, a instalação de cabos-de-aço, com roldanas para o transporte de material e o difícil acesso à cavidade fizeram com que os trabalhos fossem sendo adiados.
A desobstrução realizada no dia 21 de Junho último iria revelar um conjunto de salas e galerias drapejadas de concreções de pureza e beleza inauditas. Um complexo subterrâneo intacto, porque encerrado até hoje ao Homem, e que os espeleólogos já exploraram numa extensão que o torna no Maio existente a sul do Tejo. A maior cavidade e certamente a mais bela.
Segundo Francisco Rasteiro, o desenvolvimento total até agora explorado ronda os dois quilómetros de extensão, por entre complexa rede de galerias e cerca de duas dezenas de salas (algumas com lagos de água salgada e sifões).
A descoberta manteve-se secreta devido à imprescindível necessidade de preservar o achado de eventuais destruições como aconteceu na Gruta do Zambujal. Secretismo que ainda se mantém: por motivos conservacionistas optamos por não divulgar o nome e a localização do novo tesouro da Arrábida.
As grutas, testemunhos do percurso histórico do nosso planeta, constituem geomonumentos que deverão ser preservados. Mas, para a sua efectiva protecção, antes de mais, será necessário saber quantas são, onde se situam e quais as suas características. Dar novos mundos ao mundo será pois uma tarefa de grande importância. Para que se conserve o património geológico e se preservem os testemunhos da história do planeta azul.
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