15/12/2009

Espécies imaturas

As declarações proferidas por Fernando Ruas durante o Congresso da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP), no dia 4 de Dezembro, em Viseu, revelaram a fractura entre o presidente dessa estrutura e o Governo de José Sócrates. Fernando Ruas atacou os "fundamentalismos" das instituições que trabalham sob a alçada do Ministério do Ambiente. "Eivados por fundamentalismos bacocos, continuam empenhados na protecção desmesurada de espécies como os morcegos, os lobos de Leomil ou as gralhas de bico vermelho, mas parecendo esquecer que a primeira espécie que nos cumpre defender é a humana". (sic)
As afirmações do presidente da ANMP mereceram uma pronta resposta por parte do Secretário de Estado do Ambiente. Humberto Rosa acusou Fernando Ruas de fazer declarações "totalmente infundadas" e "verdadeiramente fundamentalistas contra a conservação da natureza".
O Presidente da Comissão Científica da Federação Portuguesa de Espeleologia (FPE), Gabriel Mendes, também não ficou indiferente às afirmações proferidas: “São citações como as do Sr. Fernando Ruas que justificam cada vez mais o papel das Associações que estudam e protegem o ambiente e que ao contrario do que o Sr. Ruas afirma, não dependem do Ministério do Ambiente, bem pelo contrário, sua independência é o garante para que este Ministério não ceda ao fundamentalismo bacoco de autarcas como o senhor Ruas que encontram no desenvolvimento insustentável a solução milagrosa para a má gestão de muitas e muitas autarquias deste país.
Sr. Ruas deveria saber que é com a protecção de espécies como os morcegos, os lobos de Leomil ou as gralhas de bico vermelho entre muitas outras infelizmente vítimas da ganância essa sim desmesurada do bicho homem, que se garante a salvaguarda de todo o ecossistema sem o qual a espécie humana não terá qualquer possibilidade de sobrevivência. É verdadeiramente assustador confrontarmos com declarações de quem representa todos os municípios com este teor de irresponsabilidade cívica, cultural e ambiental. Agora compreendo melhor a posição de alguns autarcas que pedem para não tomarmos o todo pela a parte. Sei que há autarcas competentes, cultos e que colocam a sua inteligência ao serviço das populações e repudiam servir os interesses menos escrupulosos de quem não se preocupa com o legado para futuro.
Uma associação de que eu nunca farei parte, será a que defenda espécies biologicamente imaturas como o senhor Ruas, que infelizmente estão muito longe de estarem em vias de extinção.

Infortunadamente vamo-nos habituando às "prosas bárbaras" com que somos frequentemente brindados neste país à beira-mar plantado!... Durante as Jornadas Nacionais de Pedestrianismo, que decorreram nos dias 14 e 15 de Novembro, em Fafe, também assistimos surpresos à apologia das eólicas! Estas não afectam a fauna de forma negativa como, só faltou dizer, são benéficas para a avifauna e "morcegagem". Pois é, não é?

P.S.: Para mais informações, consulte o site da RTP.

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