O crepúsculo insinua-se sobre as colinas carbonatadas, fugindo os últimos raios solares para as bandas do poente entre o cheiro intenso das labiadas: é o momento em que os morcegos saem das grutas da Solestreira para povoarem os céus nocturnos em busca de caça. Cenário cíclico de um fim de tarde, desde remotos tempos, na Fonte da Benémola. No entanto,… ainda há morcegos?
A afluência, ao longo dos anos, de grande número de pessoas às grutas da Solestreira, a que não estará alheio o facto de virem assinaladas em alguns mapas e guias turísticos e serem de fácil acesso, tem vindo a degradá-las rápida e irreversivelmente.
Locais tradicionalmente de hibernação e de criação de morcegos (onde se referenciou a existência de uma colónia com cerca de mil Miniopterus schereibersi e Myotis blythi), as grutas da Solestreira chegam a ser visitadas por centenas de pessoas durante o ano, advindo daí graves prejuízos para a população destes animais. De facto, neste Sítio Classificado da Fonte da Benémola, os morcegos das Solestreiras já não preenchem os céus nocturnos, porque poucos restam.
Cerca de metade das 24 espécies de morcegos (quirópteros) conhecidos em Portugal utilizam grutas naturais como abrigo (ou seja, são troglófilos). Durante as últimas décadas, as populações de morcegos cavernícolas das regiões temperadas têm, em geral, vindo a diminuir. A situação de ameaça de extinção em que se encontram, a nível europeu, torna imperativo a defesa das colónias contra a perturbação das grutas-abrigo mais importantes e representativas.
As causas da diminuição das populações de morcegos são inúmeras e variadas. Contudo, no nosso País parecem ser três os factores responsáveis por esse decréscimo: o uso (e abuso) de pesticidas na agricultura, a destruição do habitat e a perturbação das colónias de quirópteros cavernícolas por parte do Homem.
O desaparecimento de uma colónia de morcegos não é somente grave para o património faunístico, como tem consequências difíceis de avaliar nos ecossistemas da região e das próprias grutas. O guano de morcego que se acumula nas cavernas é o suporte de uma fauna particular.
A fim de proteger as populações de morcegos e biocenoses do guano a elas associadas, verifica-se a necessidade de regulamentar o acesso às grutas de maior importância como abrigos de morcegos, estratégia que tem sido adoptada com sucesso noutros países. Outra medida, mais drástica, será proceder à colocação de gradeamentos que não prejudiquem a entrada e saída de morcegos e não alterem o clima da caverna, como sugere o biólogo Jorge Palmeirim.
As populações de quirópteros são particularmente frágeis devido à sua baixa natalidade, tendo cada fêmea geralmente uma cria por ano e raras vezes duas. Daí que as populações que tenham sido numericamente afectadas recuperem muito lentamente os seus efectivos.
Na época de criação (de Março a Maio), a perturbação de colónias pode provocar uma alta mortalidade entre os morcegos juvenis, que caem do tecto no meio da confusão, ou levar mesmo ao abandono da gruta. Durante os meses quentes do ano, os morcegos insectívoros acumulam energia no corpo de modo a sobreviverem à falta de alimento do Inverno, entrando então no período de hibernação (de Novembro a Março), com vista a minimizarem os gastos energéticos.Se as reservas alimentares acumuladas não forem suficientes para toda a época fria, os morcegos incapazes de se alimentarem terão grandes possibilidades de morrerem. Daí que, se a hibernação for frequentemente interrompida pela presença ou acções por parte dos homens, os morcegos possam não sobreviver até à Primavera, época em que poderão novamente caçar no céu nocturno.
A afluência, ao longo dos anos, de grande número de pessoas às grutas da Solestreira, a que não estará alheio o facto de virem assinaladas em alguns mapas e guias turísticos e serem de fácil acesso, tem vindo a degradá-las rápida e irreversivelmente.
Locais tradicionalmente de hibernação e de criação de morcegos (onde se referenciou a existência de uma colónia com cerca de mil Miniopterus schereibersi e Myotis blythi), as grutas da Solestreira chegam a ser visitadas por centenas de pessoas durante o ano, advindo daí graves prejuízos para a população destes animais. De facto, neste Sítio Classificado da Fonte da Benémola, os morcegos das Solestreiras já não preenchem os céus nocturnos, porque poucos restam.
Cerca de metade das 24 espécies de morcegos (quirópteros) conhecidos em Portugal utilizam grutas naturais como abrigo (ou seja, são troglófilos). Durante as últimas décadas, as populações de morcegos cavernícolas das regiões temperadas têm, em geral, vindo a diminuir. A situação de ameaça de extinção em que se encontram, a nível europeu, torna imperativo a defesa das colónias contra a perturbação das grutas-abrigo mais importantes e representativas.
As causas da diminuição das populações de morcegos são inúmeras e variadas. Contudo, no nosso País parecem ser três os factores responsáveis por esse decréscimo: o uso (e abuso) de pesticidas na agricultura, a destruição do habitat e a perturbação das colónias de quirópteros cavernícolas por parte do Homem.
O desaparecimento de uma colónia de morcegos não é somente grave para o património faunístico, como tem consequências difíceis de avaliar nos ecossistemas da região e das próprias grutas. O guano de morcego que se acumula nas cavernas é o suporte de uma fauna particular.
A fim de proteger as populações de morcegos e biocenoses do guano a elas associadas, verifica-se a necessidade de regulamentar o acesso às grutas de maior importância como abrigos de morcegos, estratégia que tem sido adoptada com sucesso noutros países. Outra medida, mais drástica, será proceder à colocação de gradeamentos que não prejudiquem a entrada e saída de morcegos e não alterem o clima da caverna, como sugere o biólogo Jorge Palmeirim.
As populações de quirópteros são particularmente frágeis devido à sua baixa natalidade, tendo cada fêmea geralmente uma cria por ano e raras vezes duas. Daí que as populações que tenham sido numericamente afectadas recuperem muito lentamente os seus efectivos.
Na época de criação (de Março a Maio), a perturbação de colónias pode provocar uma alta mortalidade entre os morcegos juvenis, que caem do tecto no meio da confusão, ou levar mesmo ao abandono da gruta. Durante os meses quentes do ano, os morcegos insectívoros acumulam energia no corpo de modo a sobreviverem à falta de alimento do Inverno, entrando então no período de hibernação (de Novembro a Março), com vista a minimizarem os gastos energéticos.Se as reservas alimentares acumuladas não forem suficientes para toda a época fria, os morcegos incapazes de se alimentarem terão grandes possibilidades de morrerem. Daí que, se a hibernação for frequentemente interrompida pela presença ou acções por parte dos homens, os morcegos possam não sobreviver até à Primavera, época em que poderão novamente caçar no céu nocturno.
Jornal Forum Ambiente
Jornal O Algarve
5 comentários:
Olá Pedro,
Este texto foi publicado em 1995.
Pela foto voltaste lá recentemente.
Nestes 12 anos que alterações viste no local?
Abraço
Este texto foi publicado em 1995, no jornal Forum Ambiente, com o objectivo de alertar o público em geral para a importância da preservação dos morcegos cavernícolas e, para isso, usei o excelente exemplo das Solestreiras. Excelente exemplo por se tratarem de grutas-abrigo de morcegos, com referencias históricas a colónias importantes, de fácil acesso e muito frequentadas.
A primeira vez que visitei as Solestreiras foi na primeira metade dos anos 80 e, desde ai, tive oportunidade de regressar a essas cavidades com alguma regularidade. Durante os anos em que tenho vindo a acompanhar estas grutas, o que tenho a registar de mais significativo é a continuada degradação das mesmas, expressa na destruição de praticamente todas as concreções, abandono de detritos, pinturas e gravações nas paredes e progressiva diminuição do número de morcegos. Neste último particular, gostaria de deixar bem claro que não disponho de dados numéricos porque nunca fiz, nem tive acesso, a estudos que permitissem a quantificação do número que quirópteros e sua evolução ao longo do tempo. Trata-se pois e somente de uma impressão sumária por parte de quem visita essas cavidades ao longo dos anos.
Neste contexto, também será de assinalar, nestes 12 últimos anos, a colocação de vedações para impedir o acesso de pessoas e consequente protecção dos morcegos. Acontece que, à semelhança de outras grutas que foram fechadas, as “barreiras” foram destruídas e não contaram com qualquer medida de restauro ou reposição! Mais uma vez a economia à frente da conservação, o esquecimento e alheamento por parte das entidades responsáveis pela conservação da natureza ou ambas?
Após um breve período de tréguas, enquanto durou a vedação, as Solestreiras continuaram e continuam a sofrer numerosas e comprovadas incursões antrópicas sem que nada de concreto seja feito para resolver o problema. Se é que se trata de um verdadeiro problema! Isto porque, depois de demonstrada a nossa tese de que essas grutas são visitadas por centenas de pessoas por ano, das duas uma: as incursões não têm tido efeitos nefastos sobre as populações de morcegos ou esses efeitos são comprovadamente nefastos. E a demonstrar-se essa segunda hipótese a questão que se coloca será, compreensivelmente, o que fazer de concreto para mitigar ou resolver esse problema? Noutras lógicas estaremos apenas a protelar o problema ou até a branqueá-lo enquanto as colónias de morcegos se extinguem paulatinamente. Mas, caso se comprove a primeira hipótese, também se poderá chegar à conclusão de que tudo vai bem e que não é preciso fazer nada. Nesse caso, ao menos que se retire a “porcaria” da vedação que ai se encontra!
Por último, será interessante confrontar a realidade actual das Solutreiras com aquilo que Estácio da Veiga escreveu acerca das mesmas há mais de um século.
Pedro Cuiça
Obrigado pela pronta resposta!
Estou esclarecido.
Obrigado
Olá,também faço parte de um grupo de espeleologia(CES)e há pouco tempo estive à porta das solestreiras e embora não tenha entrado, é nítido que a entrada está em muito mau estado, talvez pelo seu fácil acesso.
Penso que a colocação de grades de ferro não irá melhorar o problema uma vez que na maior parte das grutas onde estas são colocadas, a grades acabam destruirias.
Com os melhores cumprimentos
CES
Infortunadamente assim é João Águas! Os exemplos semelhantes que se conhecem no Algarve (tal como noutros pontos da geografia nacional) já demonstraram que esse tipo de soluções geralmente dão maus resultados...
Cumprimentos
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