04/03/2009

Viver numa caverna (V)

Gruta da Quinta da Moura (Oeiras) antes de ter sido destruído o que ainda restava do muro de pedra da entrada. [© Pedro Cuiça (1998)]

Não há dúvida de que a vida nos cega para muitas coisas!... Um excelente exemplo disso é, indubitavelmente, o fenómeno de viver em grutas. De tão subterrâneo que é passa ao lado da maior parte da população que se vê diariamente confrontada com o mesmo, sem o ver!!! Sobre o assunto não posso deixar de referir aquilo que foi escrito no blogue As Minhas Pequenas Coisas. Também é interessante ler os comentários a esse post.

"Homens das Grutas
Acabei de ver no telejornal da SIC uma reportagem com o nome "Homens das Grutas". Como sempre acontece, fiquei chocada com a miséria em que algumas pessoas vivem.
Pelo que diz na reportagem, existem pelo menos 1200 sem-abrigos só na cidade de Lisboa. 1200 pessoas que vivem nas ruas, faça chuva ou faça sol. Pessoas que comem os restos que encontram no lixo, que vestem roupa em péssimas condições, que dormem no chão dia após dia.
Não consigo imaginar o desespero destes homens e mulheres. Deve ser frustrante viver na mais absoluta miséria e sentir que ninguém lhes deita a mão.
Que tragédia lhes terá acontecido para acabarem assim, sem família, sem amigos, sem trabalho, sem nada?
Mário e João são os nomes dos homens que ousaram dar a cara para mostrar este flagelo às portas de Lisboa. Rostos cansados, frustrados, sem esperança. O primeiro não tem família, mas assegura ter amigos que tentam ajudá-lo. Mas o segundo caso chocou-me mais: tem família.
João disse à jornalista que tem família, tem filhos e estes sabem onde ele vive. Mas mesmo assim, em três anos, nunca o visitaram. Deve ser preciso um coração de pedra para saber que o nosso pai, filho, irmão, primo, tio, vive numa gruta, rodeado de ratos e de cobras, e não fazer nada para o ajudar.
Mário não vai ao médico, mesmo quando fica doente. Procura medicamentos no lixo das outras pessoas, e é com eles que combate as doenças. Enfim. Já João tem para almoçar somente um pão. Sem mais nada, só um pão.
Quando a jornalista lhe pergunta quando dinheiro tem consigo, João é rápido a contá-lo. 31 cêntimos. Somente 31 cêntimos. "Eu não roubo nada a ninguém", garante.
Não entendo como é que se consegue ficar indiferente a situações destas. É preciso ser muito desumano para não ajudar o próximo."


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