16/03/2012

Magia da Arte

Caverna de Niaux (França)

Excluída a hipótese do totemismo "no apogeu do paleolítico, resta-nos a explicação pela teriolatria ou, com mais probabilidades, pelo culto coercitivo, da arte madalenense. As cavernas, onde as pinturas aparecem nos lugares misteriosos, mais escuros e mais afastados da entrada, e os rochedos insculpidos, de difícil acesso, são lugares sagrados para o culto mágico.

Hugo Obermaier, embora pareça não fazer uma distinção nítida entre magia e religião, diz: "Puede afirmarse con seguridad que los grabados son muchas veces del todo-invisibles-y fueron confeccionados sólo para la vista del autor y de la Divindad. Todo esto compele a deducir que los trogloditas fueron arrastados hacia la prolongada noche de las cavernas por un encanto místico que les llevó a praticar en tales lugares la magia de la caza. Ésta se usa aún hoy, por exemplo, en Anam en donde es costumbre grabar en la arena el dibujo del animal a cuya caza se quiere proceder; de esta manera se efectúa el conjuro y la matanza simbólica. Coincide con esto el que en Niaux, en la cueva Castillo y en Pasiega se vean colocadas sobre algunas representaciones de animales flechas o azagayas, pintadas como indiscutibles testimonios, de los conjuros efectuados sobre ellos. Por conseguiente, en las cuevas con pinturas o grabados rupestres espreciso ver los misteriosos lugares de culto reservados para los iniciados. Bajo un punto de vista semejante, deben interpretarse, según nuestra opinión, los abrigos del Oriente y Sureste de España (danza ceremoniosa de Cogul, ídolos, magia de caza, etc.)."

Hernandez-Pacheco é de opinião que as pinturas paleolíticas zoomorfas, de estilo naturalista, das cavernas cantábricas, parecem corresponder de preferência a ideias de magia de caça; e que as composições ou cenas complexas, pertencentes à fase superior das pinturas rupestres do Oriente de Espanha, onde intervém com preponderância a figura humana, também com carácter naturalista, podem em grande parte corresponder a uma significação comemorativa ou histórica.
Com razão diz Reinach que a expressão magia da arte deve ser tomada à letra para esta época de artistas-feiticeiros.

Mas além das representações antropomórficas, fitomórficas e zoomórficas, surgem certos sinais de difícil se não impossível decifração que podem talvez ser encarados como marcas de caça, de propriedade, etc. Muitos deles há que representam esquemas de motivos naturalistas, mas outros aparecem que não são de nenhum modo derivações, nem são o resultado de uma degenerescência de primitivas figuras realistas. Assim os losangulos, as cruzes, os hexágonos e outros ornatos poderão desempenhar talvez o papel de sinais alfabetiformes, longínquos antepassados da escrita. No paleolítico é provável a existência, primeiro, de uma pictografia figurativa, seguida depois de uma pictografia simbólica.

É um erro julgar-se que dentro do período paleolítico se não fez estilização, pródromo de um simbólica complexa que se desenvolve e se acentua mais tarde. Desde o gurdaniano que a estilização se acentua cada vez mais invadindo o naturalismo, transformando lentamente a realidade das figuras em motivos traçados segundo uma muito convencional esquematização.
Breuil estudou a degenerescência das figuras animalistas da época da rena em motivos ornamentais, sendo, por exemplo, absolutamente notável a estilização progressiva da cabeça do bisonte até à espiral e à voluta: os traços essenciais, fundamentais, são os dos olhos e os indicativos dos chifres. A imagem resume-se toda num sinal."

Aarão de Lacerda in O Fenómeno Religioso e a Simbólica (Guimarães Editores, 1998; pp. 99-101), publicado pela primeira vez em 1924)

Caverna de Niaux (França)

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