Acresce que a Dame de Brassempouy tem muito mais para contar do que esta perspectiva reconhecidamente inestimável. À semelhança dos primeiros humanos que há vários milhões de anos atravessaram as planícies da savana africana, os seus antepassados directos na Europa - os Neandertais, com as suas sobrancelhas proeminentes e pescoços atarracados (assim chamados em honra do vale alemão Neander, onde foram descobertos os primeiros restos mortais) - também não seriam capazes de criar objectos tão delicados. Ora, os referidos Neandertais tinham muitas virtudes. Com uma capacidade cerebral ligeiramente maior do que a nossa, tinham sido suficientemente resistentes e inteligentes para sobreviverem 250 mil anos no ambiente mais hostil que se possa imaginar, o das recorrentes glaciações que assolaram o continente de forma periódica. Contudo, não nos deixaram uma só imagem como as supracitadas. Assim sendo, a Dame de Brassempouy leva-nos a centrar a nossa atenção, com excepcional clareza, na questão mais importante de todas: o que é que aconteceu durante a transição para o homem moderno? O que é que nos separa e porque é que somos tão diferentes?"
James Le Fanu (2009): Porquê nós?; Civilização Editora
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