11/12/2008

Isso é tudo especulação

Gruta do Zambujal
Derrocada de Sítio Classificado

[FORA DE PORTAS ● jornal Forum Ambiente nº 186, 19 de Junho de 1998]

O fecho da Gruta do Zambujal estava marcado para Junho. Infelizmente, a derrocada de parte do nível inferior da cavidade constituiu a novidade do mês. A conservação desse Sítio Classificado revela-se, cada vez mais, uma impossibilidade e os espeleólogos temem o pior: a derrocada de toda a gruta.

Gruta do Zambujal © Francisco Rasteiro (1998)

Não é todos os dias que se faz futurologia. Na verdade, a previsão do futuro da Gruta do Zambujal não suscitava grandes dúvidas. Era tudo uma questão de tempo. Passa-se a explicar. O jornal Forum Ambiente alertou, na edição de 5 de Junho, para o abandono e destruição da Gruta do Zambujal. No dia seguinte (sábado, 6 de Junho), o Núcleo de Espeleologia da Costa Azul (NECA) constatou que parte do nível inferior da cavidade tinha sofrido uma derrocada recente.
O alerta não se fez esperar, a derrocada na Gruta do Zambujal saltou para as páginas dos jornais. A pérola da espeleologia portuguesa voltou a ser notícia e, mais uma vez, por motivos relacionados com a sua destruição. Destruição que, ao longo de duas décadas, transformou essa “jóia”, de forma inexorável, num “buraco” em perigo de ruir na sua totalidade. É que as rochas nas quais a gruta se encontra estão intensamente fracturadas, demonstrando de modo cada vez mais evidente a instabilidade da mesma.
Os vereadores da Câmara Municipal de Sesimbra reuniram-se de urgência, no dia 9 de Junho (terça-feira), para avaliarem o sucedido na Gruta do Zambujal, tendo posto ao corrente da situação o primeiro-ministro, António Guterres, e a ministra do Ambiente, Elisa Ferreira. Os responsáveis do Parque Natural da Arrábida (PNA) estiveram incontactáveis até ao fecho da edição e a pedreira de José Galo limitou-se a dizer: “Isso é tudo especulação”.
Em visita à gruta, no dia 10 de Junho, a Forum Ambiente presenciou a área afectada pela derrocada e, em conversa com a população confirmou que “os rebentamentos são quase todos os dias”. A Guarda Nacional Republicana, de Sesimbra, referiu que não foi participada qualquer ocorrência de explosão fora do comum. No entanto, o “povo” já está habituado aos “abalos de terra” e, por medo ou indiferença, já não se dá ao trabalho de reclamar.

Vergonhosa indiferença, manifesta incompetência
A Gruta do Zambujal já não é a maravilhosa cavidade de há 20 anos atrás. Com grande parte das concreções destruídas, parcialmente entulhada por blocos e desmoronada, o seu valor patrimonial e científico, bem como o seu aproveitamento turístico, encontram-se seriamente comprometidos. Duas décadas após a sua classificação como área protegida de interesse espeleológico, a Gruta do Zambujal continua à mercê da burocracia e da ineficiência das entidades responsáveis, entre as quais se inclui o Instituto da Conservação da Natureza (ICN), que alega invariavelmente carência crónica de meios.
Para o NECA, “o ICN mostra-se completamente desinteressado pela conservação da Gruta do Zambujal, alegando existirem problemas de maior prioridade para serem resolvidos”. O PNA e a Câmara Municipal de Sesimbra (CMS) também não têm um historial famoso, no que se refere à conservação e dinamização desse geo-recurso cultural. A CMS, ao tempo do anterior executivo, chegou mesmo a entulhar uma das entradas da cavidade com toneladas de blocos. Por incrível que pareça, não foram apuradas responsabilidades e ninguém foi punido.
A indiferença a que a gruta tem sido votada ao longo dos anos está bem patente no terreno. Resultado de diversos actos de vandalismo, bem como da incompreensível extracção de pedra, a incúria e desresponsabilização são bem evidentes. Aliás, segundo o NECA, os recentes desmoronamentos verificados na Gruta do Zambujal terão sido originados por fortes explosões provocadas pela laboração da Pedreira de José Galo. Mas será um “pleonasmo” referir a ilegalidade da laboração da pedreira a menos dos 500 metros desse Sítio Classificado, a destruição de grande parte do vale da Ribeira do Cavalo ou o desaparecimento das pegadas de dinossáurios aí existentes. “Outros valores se levantam…” e a (des)responsabilidade é de todos em geral e de ninguém em particular.
O património espeleológico é que não se compadece com a actuação de quem de direito. Tal como foi referido no jornal Forum Ambiente (nº 184, de 5 de Junho de 1998), talvez o concelho de Sesimbra perca um pólo de desenvolvimento local e o país uma das mais belas grutas conhecidas em território nacional, se é que já não perdeu.



OPINIÃO
Há que dizê-lo…
Com ou sem frontalidade


15 horas: o senhor engenheiro ainda não chegou. 15 horas e 30 minutos: espera-se o senhor engenheiro, a qualquer momento. 16 horas: o senhor engenheiro já se encontra nas instalações, mas em paradeiro desconhecido! 17 horas e 25 minutos: o senhor engenheiro está ao telefone, no entanto não poderá aguarda por ele, em linha, porque a central telefónica ficará ocupada. 17 horas e 30 minutos: o senhor engenheiro acaba de sair. Não, não é o director do Parque Natural da Arrábida (PNA). Esse encontra-se de férias. A pessoa que a Forum Ambiente tentou contactar na terça-feira (dia 9 de Junho), para prestar declarações acerca do sucedido na Gruta do Zambujal e da posição do PNA, é supostamente a que estaria a substituir o director.
O presidente do Instituto da Conservação da Natureza (ICN) também se encontrava incontactável e não havia ninguém no instituto que prestasse esclarecimentos sobre a Gruta do Zambujal. Aconselharam-nos a contactar o PNA, o que já tínhamos feito talvez “umas poucas três dezenas de vezes”. Na Câmara Municipal de Sesimbra o panorama não foi mais animador. O presidente da edilidade encontrava-se de férias e os vereadores estiveram incontactáveis, pois encontravam-se reunidos devido à preocupante situação da Lagoa de Albufeira e face ao recente abatimento da Gruta do Zambujal. Nos dias 12, 15 e 16 de Junho, a Forum Ambiente voltou à carga, dando descanso aos visados nos feriados e fim-de-semana. Mas sem resultados. Até ao fecho da edição (dia 16) a situação de incomunicabilidade das pessoas e entidades referidas manteve-se.
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