A equipa liderada pelo arqueólogo Nicholas Conard, da Universidade de Tübingen (Alemanha), montou a flauta a partir de 12 fragmentos de osso de abutre, espalhados por uma pequena área da caverna de Hohle Fels. Os fragmentos ósseos formaram um instrumento musical de 22 centímetros, com cinco furos e uma extremidade em forma de "V".
A arqueóloga especializada no período paleolítico April Nowell, da Universidade de Victoria (Canadá), referiu que a data da flauta é anterior à de outros instrumentos, "mas não tão mais antiga que chegue a ser surpreendente ou polémica". A flauta de Hohle Fels é mais completa e um pouco mais velha que os fragmentos de osso e marfim de sete outras flautas, também encontradas no sul da Alemanha, e documentadas por Conard e colegas nos últimos anos. Outra flauta, descoberta na Áustria, teria 19 mil anos, e um conjunto de 22 flautas encontradas nos Pirenéus franceses foram datadas de 30 mil anos atrás.
A equipa de Conard encontrou a flauta em Setembro de 2008, na mesma caverna e na mesma altura em que descobriu seis fragmentos de marfim que compõem uma estatueta feminina que, segundo pensam, será a mais antiga escultura de uma forma humana. Segundo o arqueólogo Wil Roebroeks, da Universidade de Leiden (Holanda), a flauta e a estatueta, descobertas na mesma camada de sedimento, sugerem que seres humanos anatomicamente modernos terão estabelecido uma cultura avançada na Europa há 35 mil anos. Roebroeks afirmou que é difícil saber qual o grau de inteligência ou de desenvolvimento social desse povo, mas os vestígios materiais que deixaram evidenciam um comportamento sofisticado semelhante ao dos seres humanos modernos.
Os neandertalenses também habitavam a Europa na época em que a flauta e a estatueta foram feitas, e também terão frequentado a caverna de Hohle Fels. Tanto Conard como Roebroeks acreditam, no entanto, que os depósitos de vestígios deixados por ambas as espécies, ao longo de milhares de anos, indiciam que os artefactos foram criados por humanos.
O arqueólogo Ivan Turk encontrou, em 1995, um osso de urso, numa caverna da Eslovénia, que ficou conhecido como a Flauta de Divje Babe. Turk datou o objecto de há 43 mil anos atrás e sugeriu que fosse uma flauta usada pelo Homem de Neandertal. Mas outros arqueólogos puseram essa hipótese em questão, sugerindo que os furos feitos no osso eram marcas dos dentes de um animal carnívoro. Não há dúvida de que a imagem errónea de um Homem pré-histórico profundamente primitivo, rude e bruto tem mudado paulatinamente ao longo dos anos. Um rumo que talvez abra caminho à descoberta incontestável de flautas neandertalenses!
[Fonte: Eco-Subterraneo]
16 de Julho de 2009: A BBC produziu um documentário sobre esta magnífica descoberta: o instrumento musical mais antigo conhecido até hoje.